Longevidade

Teste aponta risco de queda com até seis meses de antecedência

08/02/2025 Alceu Nader
Teste aponta risco de queda com até seis meses de antecedência | Jornal da Orla

Pode parecer adivinhação, mas é ciência. Mais: é simples, barato, não depende de aparelhos e pode indicar a existência de enfermidades mais graves, demandando exames mais complexos. Essa é a introdução de um estudo inovador do Laboratório de Avaliação e Reabilitação do Equilíbrio (Lare), da Universidade de São Paulo de Ribeirão Preto, com apoio da Fapesp, que prevê quedas em até seis meses antes que elas ocorram, e concorre para fazer parte das consultas médicas de rotina em pessoas 60+. 

Queda é a segunda maior causa de morte relacionada a ferimentos entre pessoas com mais de 65 de idade. Se não mata, com lesões profundas, como fraturas ou traumatismo craniano, causa ferimentos superficiais que vão repercutir em pontos vitais para o idoso, como a redução da mobilidade, a perda  de autonomia e a queda na autoconfiança, abrindo espaço para a decrepitude. Crianças, adultos e idosos, atletas ou não, também podem sofrer perturbações do equilíbrio postural. Entre idosos, porém, a lista de possíveis causas se multiplica, como diminuição da força muscular, alterações visuais, redução do equilíbrio, alterações da marcha, artrites, déficit cognitivo e uso de quatro ou mais medicamentos, além de fatores biológicos, ambientais, comportamentais e até mesmo sociais. 

“O modelo vigente do teste de equilíbrio é simples”, explica a médica Daniela Cristina Carvalho de Abreu, coordenadora do Lare, “e requer apenas que a pessoa idosa permaneça em cada uma das quatro posições. A primeira delas é a dos pés paralelos, chamada bipodal; a segunda, com um dos pés ligeiramente à frente do outro, é a semi-tandem; a terceira, com um pé na frente do outro, é a tandem; e, por fim, a que a pessoa se equilibra em um só pé, é chamada unipodal. O exame tradicional”, continua a professora e doutora “indica que dez segundos em cada posição são suficientes para verificar problemas de equilíbrio e mobilidade, mas nosso estudo confirma que dez segundos em cada posição é pouco”.

Ela ainda explica que o estudo mostrou ser muito mais efetivo quando a pessoa sob teste faz apenas as duas posições mais desafiadoras (a tandem e a unipodal), e por 30 segundos em cada uma delas. “Descobrimos que, para cada segundo a mais, além dos 30 segundos, que a pessoa idosa conseguia ficar na posição de tandem ou unipodal, a chance de cair nos seis meses subsequentes diminuía 5%. Com isso, concluímos que é possível predizer o risco de queda para o período de seis meses”, anuncia. “Trata-se de uma conclusão muito importante”, continua, “porque o  teste pode ser realizado na clínica, de forma rápida e sem a necessidade de equipamentos”. 

“Com a realização do teste mantido por 30 segundos”, detalha a doutora, “conseguimos não só identificar os indivíduos com problemas sutis de equilíbrio, mas também predizer qual o risco dela cair nos próximos seis meses – o que torna ainda mais importante a investigação posterior sobre a causa do desequilíbrio. O teste de apenas 10 segundos só aponta quem já está com problemas muito graves de equilíbrio, deixando passar uma parcela importante de pessoas com risco elevado de queda. Nossa sugestão é que o limite de tempo para o teste de equilíbrio de quatro estágios seja estendido por mais de 23 segundos”. 

Ela conclui afirmando ter a esperança de que os resultados do estudo sirvam de base para a implementação da avaliação de risco de quedas em pessoas a partir de 60 anos, abrangendo desde a atenção básica até as consultas com especialistas”. (Com informações da Agência Fapesp)