
Ansiosa para voltar ao octógono, a lutadora Tainara Lisboa se mantém preparada enquanto aguarda o chamado para uma nova luta no principal campeonato de MMA do mundo, o UFC. Nascida, criada e treinada em Santos, Tainara sofreu uma lesão gravíssima no joelho, rompimento na cartilagem, que a deixou fora de combate por cerca de dez meses.
Entretanto, a atleta colocou na sua cabeça um slogan para a sua recuperação: 1% todo dia. E seguiu até os 100%. “A cirurgia foi bem complexa. A gente sabia que seria difícil mas acabou sendo um pouco pior que o imaginado. Tive que reaprender coisas básicas como andar e subir degraus. Eu já tenho cirurgia de LCA nos dois joelhos, mas não tem comparação com essa última”, conta. “Mas quando eu pude voltar aos treinos de fato, não precisei fazer nenhuma adaptação no meu estilo de luta. Me sinto como antes. Eu sou uma atleta muito intensa, não sou medrosa e eu acho que eu nem conseguiria me conter por uma complicação da cirurgia”, finaliza.
A única adaptação feita por Tainara e sua equipe, Damas 013, após a cirurgia foi o tempo para dar um okay para o UFC. Por precaução, a lutadora decidiu esperar até que todo seu corpo estivesse preparado para entrar no cage novamente. E esse momento chegou. A equipe já deu sinal positivo à empresa e está no aguardo da ligação.
“Estou bastante ansiosa. Nós já pedimos a luta e estamos aguardando o contato. Não tenho nenhuma adversária especial para enfrentar, estou aceitando qualquer luta pois estou com muita vontade de lutar. Quem eles acharem interessante eu topo. Ainda não sei data, mas acho que estamos bem próximos de descobrir”, afirma.
Mesmo sem uma luta definida, ela se mantém otimista, com as melhores expectativas. Sua interpretação é de uma espécie de renascimento. “Essa lesão me deixou perto do fim da minha carreira. Estou tendo a oportunidade de retornar e continuar o meu sonho. Com certeza entrarei na luta com muita sede de vitória e vou dar o meu melhor”.
Lesionada, Tainara recebeu todo o respaldo do UFC. A empresa pagou os custos da cirurgia. “Eles entendem que o atleta trabalha com o corpo. E como eu me lesionei durante a luta, eles arcaram com o custo”, relembra. Entretanto, ela destaca que a vida de lutadora não é moleza. “A gente recebe por luta, não tem salário. Esse período que fiquei parada, eu não tava recebendo nada, estava por conta própria”.
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Crédito: Bruno Polengo
O histórico de Tainara no MMA conta com 9 lutas, sendo 7 vitórias e 2 derrotas. No UFC ela segue invicta, com duas vitórias em duas lutas. Em sua estreia, ela derrotou a australiana Jessica-Rose Clark por submissão e, em seguida, venceu a baiana Ravena Oliveira por decisão unânime.
Porém, antes de pisar no octógono, a lutadora da Fupes já havia conquistado o mundo duas vezes lutando Muay Thai. Sua transição não foi das mais fáceis, mas ela não desistiu. “São modalidades muito diferentes. O Muay Thai é muito parado, é como uma luta de búfalos, quem bate mais forte vence. O MMA tem muita movimentação, a transição foi complicada e eu ainda estreei com derrota… Mas foi nessa luta que percebi que fiz a escolha certa. A atmosfera é indescritível”.
Presa fácil? Aqui não!
Sua estreia no MMA foi com uma derrota por submissão, mas isso trouxe uma lição importantíssima para Tainara. Sendo uma striker de origem, a atleta colocou em sua cabeça que jamais seria uma presa fácil para suas oponentes. Isso lhe rendeu três de suas nove vitórias por finalização, uma marca impressionante para uma lutadora especialista em muay thai. “Após isso, eu me dediquei muito, treinei muito as lutas no chão e me apaixonei por essa parte de solo justamente para evitar que o que aconteceu na estreia se repetisse. Eu não sou mais uma atleta de uma única característica. O meu time sempre busca encontrar a melhor estratégia para cada adversária e essa minha evolução torna isso mais fácil”.
O futuro
Mesmo tendo só duas lutas no UFC, a lutadora já tem seu plano bem traçado para seu futuro na empresa. A primeira meta é tornar-se campeã do peso-galo feminino, categoria de até 61kg, em seguida, ela também pensa em conquistar o cinturão em uma categoria abaixo, até 56, 7kg.
“Eu sempre fui uma lutadora mais leve, pesava abaixo do limite da categoria, no entanto, após minha lesão, estamos fazendo um trabalho físico para me deixar mais forte e me consolidar nos 61kg. Estamos fazendo isso para ter o melhor desempenho na categoria e garantir o cinturão. Depois, eu acredito que seja possível, sim, que eu abaixe o peso para brigar por outro cinturão no peso-mosca”, afirma.
Tainara e a Pantera
A vida de Tainara tem uma grande dualidade. Dentro do octógono, ela é Thai Panther, uma lutadora intensa, agressiva, calculista como uma verdadeira predadora. Já fora do cage, tem uma personalidade tranquila, evitando conflitos e brigas. “Eu nunca fui de brigar na rua, sou uma pessoa leve, alegre, não gosto de confusão. E a Pantera é meu lado mais forte, agressivo, animalesco”, conta. “Eu não sei como surgiu esse apelido. Uma vez entramos no Tapology, que é um site que seria uma espécie de currículo do MMA e estava lá Tainara ‘Thai Panther’ Lisboa. Eu adotei, deu certo”.
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Crédito: Bruno Polengo
Não é mole não!
Apesar de receber todo o respaldo do UFC para a cirurgia, a realidade de um lutador não é mil maravilhas. Os atletas recebem por lutas e não tem salário, dessa forma, sem combate = sem grana. “É uma vida bem interessante, mas não é luxuosa como as pessoas imaginam. Minha rotina de treinos é toda feita em Santos, eu sou de Santos e trabalho com profissionais santistas. E a gente viaja uma semana antes da luta, para a ‘fight week’ que é quando assinamos contratos, pegamos as luvas etc. Esse período é bastante legal, toda a estrutura, todo o tratamento tem o maior profissionalismo e não deixa nada a desejar”.
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