Um dos grandes romances esquecidos do século passado
“O melhor romance americano de que nunca ouvimos falar” – foi assim que a conceituada Revista New Yorker apelidou Stoner, livro publicado em 1965 por John Williams. Ignorado quando lançado, o romance foi reeditado somente 50 anos depois e surpreendentemente tornou-se um sucesso de público e crítica mundo afora. Um renascimento explicável: o livro guarda enorme qualidade.
Stoner é o nome do protagonista, cujo obituário de vida é entregue nos dois primeiros parágrafos do livro: deixando sua família interiorana aos 19 anos para cursar a Universidade do Missouri, Stoner nela doutorou-se, tornou-se professor e lecionou literatura até morrer. Um obscuro e competente professor de vida apagada que atravessou desventuras e fracassos durante sua vida acadêmica e pessoal. Uma fina e comovente tristeza perpassa todo o livro, emanando um belo sentido de intimidade que sensibiliza o leitor.
O ator Tom Hanks definiu bem este livro: “Não passa de um romance sobre um homem que vai para a universidade e se torna professor. Mas é também uma das coisas mais fascinantes que já li na vida”. A maneira como Williams conseguiu dramatizar a ordinária vida de Stoner é, por si só, um pequeno milagre literário merecedor dos mais sinceros aplausos.
Motivos para ler:
1- John Williams (1922-1994) lançou quatro romances. Assim como Stoner, foi professor na Universidade de Missouri. Morreu sem ver o renascimento e o avassalador reconhecimento literário desta que é a sua obra-prima;
2- Alguns eventos que atravessam a vida de Stoner são trabalhados de uma forma tão sofisticada que causam intensidades perturbadoras. Há momentos de sensível comoção (o pai resignado que aceita o destino do filho nos estudos), de estranhamento (o casamento envenenado) e de tensão (o sério embate com um aluno) que certificam o brilhante talento do escritor;
3- Uma boa lição tirada da vida de Stoner pode ser esta: cada qual vive em sua casca de noz, e nela há um refúgio de vida que nunca nos trai e para o qual podemos sempre regressar. Para Stoner, os estudos e a Universidade foram o seu mundo seguro. Dica: os livros podem representar um abrigo de paz e segurança.
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