A Organização Mundial da Saúde recentemente catalogou a Síndrome de Burnout como doença ligada ao trabalho, oficializando-a como “estresse crônico de trabalho que não foi administrado com sucesso”. A Psiquiatria vem se tornando uma especialidade médica cada vez mais demandada. Se é verdade que cada época possui suas enfermidades, não há dúvida: as doenças psico-neuronais são o grande mal do século XXI.
O conhecido e bem escrito ensaio Sociedade do Cansaço, de autoria do filósofo Byung-Chul Han, ilumina com muita exatidão as origens dessas enfermidades. Vivemos numa histérica sociedade de desempenho que exige o esgotamento como sinônimo de sucesso. As palavras de ordem são: projeto, iniciativa, motivação, resiliência. Circula um excesso de positividade projetado em todas as alienantes interfaces sociais. Fala-se em êxito pessoal e profissional o tempo todo. As vítimas dessa poluição são, curiosamente, os próprios agressores: pessoas fulminadas por infartos psíquicos, depressivas, fracassadas e carentes de vínculos sérios.
A hiperatividade e o repúdio ao tédio controlam nossas vidas. Perdemos a capacidade contemplativa que desde os antigos sempre significou uma inclinação propícia aos avanços culturais da humanidade. Para quebrar este desvirtuado ciclo é preciso, por primeiro, compreender o problema. Este pequeno livro é um excelente ponto de partida para a (re)construção de uma consciência mais sadia.
Motivos para ler:
1- Byung-Chul Han é um filósofo sul-coreano radicado na Alemanha, onde leciona na Universidade de Berlim. A par de sua carreira acadêmica, dedica-se a escrever ensaios sobre a sociedade atual, lançando boas bases para compreender a complexidade do mundo contemporâneo. Livros sempre interessantes e com bons e acessíveis pensamentos;
2- Ler livros também exige uma profunda e atenciosa postura contemplativa. Daí tantos não se interessarem pela atividade, muitas vezes vista como tediosa. Esquecem-se, entretanto, que o tédio é uma etapa importante no processo de desenvolvimento criativo. Quando se vive o tédio de frente, vence-se a inquietude angustiante e chega-se num novo lugar que pode ser bastante recompensador;
3- A vida contemplativa é um conceito que vale a pena ser estudado. Adotar essa postura nos torna resistentes aos impulsos opressivos da pós-modernidade (p.ex., a exposição desmedida nas redes sociais ou se tornar um workaholic) e nos capacita a viver melhor. Eis uma boa ideia para começar o ano novo.
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