Durante a ditadura militar, o saudoso jurista Sobral Pinto, um dos líderes da resistência, respondeu a um brucutu armado, que insistia em dizer que o país vivia uma “democracia à brasileira”:

“Perdão, mas não existe democracia à brasileira, o que existe é peru à brasileira”. O que o grande Sobral queria mostrar ao pitbull da repressão é que democracia é um processo político universal por intermédio do qual prevalece a vontade da maioria, e os direitos da minoria e a liberdade são respeitados.

A reconquista da democracia no Brasil foi um processo lento e doloroso, com sangue suor e lágrimas. Mas o fato é que os frutos desse processo são decepcionantes. A classe política, infelizmente, não teve a competência de promover o desenvolvimento do país com justiça social. Pelo contrário, fizeram da política um balcão de negócios para que uns poucos possam se locupletar do erário. Apostam na ignorância, na miséria e na desinformação de parcela da sociedade para continuar usufruindo das benesses do poder.

A esquerda do caviar e do champanhe, que tem em Lula da Silva seu mestre e guia, deixou de lado seus princípios, para negociar com velhos coronéis da política, a quem chamava, em passado recente, de ladrões e assaltantes. Num misto de desfaçatez e escárnio, Lula da Silva e seus companheiros andam de braços dados e fazem acordos políticos com Sarney, Renan Calheiros, Collor, Maluf e Cia limitada – os mesmos a quem chamavam de ladrões. Como disse o então ministro Jarbas Passarinho, ao assinar o famigerado AI- 5, “às favas os escrúpulos de consciência”.

Não é obra do destino, pois, que alguns dos principais líderes do PT, dois ex-presidentes da legenda, inclusive, estejam dormindo no presídio da Papuda, condenados por prática de corrupção ativa. O mais surreal desta história dantesca é que a candidata desse mesmo partido segue favorita para continuar no Palácio do Planalto por mais quatro anos. Retrato perfeito da decadência moral do país.

Os “negócios” são feitos à luz do dia. Durante a semana, a presidente da República foi chantageada por um partido político, o PR, que exigiu a troca de um ministro, que ia bem, na avaliação de Dilma. E a presidente cedeu à pressão, fazendo duas trocas em ministérios para ter o apoio deste partido e mais alguns preciosos minutos para sua campanha no horário político. O PT, portanto, faz uso da máquina pública sem a menor cerimônia e pudor, e amanhã outros partidos farão o mesmo, como já fizeram no passado.

Prezado doutor Sobral: depois de tantas lutas, as elites políticas conseguiram criar uma “democracia à brasileira”. Como no samba imortalizado por Bezerra da Silva, “se gritar pega ladrão…”.

Pobre Brasil. Que Deus tenha piedade de nossos filhos.