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Risíveis amores

20/11/2024
Risíveis amores | Jornal da Orla

Contos (risíveis) sobre a experiência amorosa 

Escritores que se dedicam a conceber um livro de contos partem de um passo comum: é preciso imprimir uma temática ao livro que, de alguma forma, alinhave todos os contos sob um eixo congruente, sob pena de tudo se transformar num amontoado de peças desconexas sob uma mesma capa. Conquanto cada conto represente uma história única, o escritor se defrontará com o desafio estético de unir todos esses pequenos mundos num mesmo sistema solar. Kundera, portador de um já experimentado virtuosismo técnico, escolheu a experiência amorosa para pavimentar os sete contos deste seu Risíveis amores.

O título do livro permite entrever o que dele se espera: seus contos fazem rir porque, ao mesmo tempo em que levam a sério o que de mais sublime existe no amor, também revelam aspectos – cômicos, ridículos, ilusórios, cretinos, cruéis – igualmente verdadeiros. O autor, assim, promove uma original investigação sobre as relações amorosas, convidando o leitor a participar de uma interessantíssima festa literária da imaginação.

“O amor é justamente é que é ilógico”, dirá o autor a certa altura. Se for assim, se essa sentença estiver correta, não parece possível julgar comportamentos amorosos. Risíveis amores, portanto, deve ser lido dessa maneira: com o espírito aberto àquilo que de mais inusitado existe nessa tão própria relação humana.

Motivos para ler:

1- Milan Kundera (1929-2023) nasceu na República Tcheca e radicou-se na França, país do qual obteve a naturalização em 1981. Escritor conhecido e festejado no mundo todo, teve no seu romance A Insustentável Leveza do Ser o ponto mais alto de sua profícua carreira;

2- Kundera termina Risíveis amores com uma indicação interessante: “Escrito na Boêmia entre 1959 e 1968”. Eis os primeiros passos – talvez mesmo o primeiro – do grande romancista que viria a se tornar. Uma pequena joia digna de atenção;

3No impagável primeiro conto do livro (Ninguém vai rir), um pretencioso protagonista crê que manipula com sucesso todas as situações de sua vida. Entretanto perde o emprego, a honra e a mulher que ama. Ao repassar toda a sua história, percebe que, em verdade, seu martírio não tem um cariz trágico, mas antes, cômico. Talvez Kundera esteja certo: “O sentido da vida é justamente se divertir com a vida”.

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