Carnaval

Quer curtir o Carnaval em família sem se endividar? É possível

24/02/2025 Josi Castro
Reprodução

Mesmo gastando mais neste período, é possível aproveitar a tríade: “feriado, folia e finanças”, sem correr o risco de ficar com a conta no vermelho; especialista ensina como se proteger

Seja em casa, saindo pra curtir um bloco, assistir aos desfiles das escolas de Samba ou até mesmo viajar. Para famílias, especialmente as que tem crianças em casa, uma coisa é certa: durante o Carnaval, despesas aumentam e gastos inesperados acontecem. Não importa a opção de entretenimento. Mas como manejar tudo isso – feriado, folia e finanças – sem correr o risco de ficar com a conta no vermelho? Thiago Godoy, criador de conteúdo especializado em finança familiar e responsável pelo perfil @papaifinanceiro, conversou em exclusividade com o Jornal da Orla dando dicas de como passar o Carnaval sem sufoco, ao menos com a carteira e cartões.

Segundo Godoy, a questão começa por entender que, em geral, as crianças replicam nossos comportamentos. Com isso em mente, deve-se envolver a criança em todas as etapas do processo de gastos. Acolhê-la nesse plano é fundamental para que as coisas caminhem bem. Não é só sobre dinheiro, mas sobre habilidades, valores, questões éticas, organização, compromisso, sustentabilidade e consumo consciente. “Deixar a criança participar do planejamento vai fazê-la se sentir incluída e parte dessa experiência”, afirma o especialista.

Definida a forma com a qual a família pretende passar o feriado, Godoy aconselha que se estipule um limite de gastos para o período, levando em conta o entretenimento (se será uma viagem, por exemplo), o tipo de atividade (se vai para praia, para hotel-fazenda, curtir uma matinê ou desfilar no bloquinho) e as condições financeiras da família, de forma que não comprometa o restante do seu orçamento mensal e futuro.

“As vezes, pode cair no erro de fazer uma atividade qualquer em família e, sem planejamento, perceber que ficou mais caro do que poderia ser. Por isso a importância do limite. Uma vez que o orçamento foi preestabelecido, fica mais fácil encaixar as despesas, seja o transporte, hospedagem, a alimentação, passeios e demais atividades. Tudo tem um custo. Quando um valor é estabelecido, se tem essa clareza financeira. É como uma âncora que evita que a gente passe do limite”.

Godoy também aconselha a determinar os valores de gastos para cada criança. “Essa definição é essencial, porque dá a criança a oportunidade dela mesma optar como gastar, mesmo que essas escolhas sejam limitadas, como é tudo na vida. E já insere a criança nesse caminho de controle e da educação financeira”.

Mas para cada faixa de idade, a abordagem deve ser diferente. “Se tiver acima de nove anos, com algum conhecimento básico de matemática, pode sugerir a criança ajudar nas escolhas e nos cálculos dessas despesas. E dessa forma ela também vai aprender a ter controle e planejar o que fazer com o próprio dinheiro”, ensina.

Para as menores, esse conceito ainda é incipiente e a tática deve ser outra. “Mas dá pra introduzir conceitos financeiros usando cofrinhos criados com antecedência, para já aprender aos poucos sobre juntar dinheiro e planejar para gastar, tudo no limite de conhecimento dela. Dá mais trabalho, mas vale a pena. Logicamente, ela poderá errar e gastar acima do estipulado, pedindo mais dinheiro e se complicando no caminho. Mas dando essa autonomia desde cedo é essencial para que ela crie essa consciência”.

E se com todo esse controle e planejamento ainda assim, no meio da diversão uma decepção surgir e a “birra” aparecer, como contornar? Godoy garante que isso é perfeitamente normal. “Nesse processo de controle de gastos da própria criança, pode acontecer que ela não consiga obter um produto que queira e tome todo o seu dinheirinho. E isso é normal. Mas também é uma ótima oportunidade de aprendizado sobre limites e escolhas, de forma respeitosa. Por mais que a gente se sinta constrangido, é preciso aprender a acolher a frustração da criança e ensinar. Dependendo da idade, a criança já tem essa inteligencia e consciência de que até o papai e mamãe tem um limite. Se nós que somos adultos nos decepcionamos com certas situações, imagine ela. O importante é entender que isso acontece e é preciso fazer outras escolhas”, reflete.

SEM CARTÃO DE CRÉDITO

O especialista desaconselha totalmente o uso Deixar a criança participar do planejamento vai fazê-la se sentir incluída e parte dessa experiência”. Thiago Godoy, especialista em finanças familiares de cartões de crédito no período; principalmente, se a despesa for parcelada. “Eu acredito que essa seja uma ferramenta para momentos de emergência, de gastos realmente necessários. Parcelando é pior ainda, pois isso compromete o orçamento futuro da família e bagunça seu planejamento financeiro.Opte pelo cartão para compras de bens duráveis ou realmente quando uma emergência real surgir”, enfatiza

EDUCAÇÃO FINANCEIRA

Thiago Godoy mantém o projeto “Bem Educação”, que visa ensinar educação financeira para crianças que estão no sexto ano do ensino fundamental até o segundo ano do ensino médio. “São seis anos de aprendizado com toda uma abordagem comportamental, socioemocional e de visão de mundo”.
No Estado de São Paulo, o programa atinge cerca de 2,5 mil crianças de diversas regiões. Godoy explica que a disciplina abrange aspectos sobre autoconhecimento, responsabilidade e autocontrole. “São as três habilidades mais importantes para que a criança se conheça e desenvolva a capacidade de tomar decisões seguras e conscientes, com comportamentos positivos, ao longo da vida”.
Em Santos, o colégio Progresso, no Boqueirão, é uma das escolas que integram o projeto, com os professores – que passaram por capacitação – aplicando o aprendizado aos alunos. “Com a facilidade de comprar por aplicativos de celular, percebemos que nossos alunos estavam consumindo exageradamente, apenas pelo prazer. Foi o que nos levou a implementar a educação financeira na escola”, afirma Lúcia de Melo Nascimento, coordenadora pedagógica.
Para Rosana Leite de Olivera da Silva, professora de educação financeira no ensino fundamental, planejar é sair da zona de conforto, deixar hábitos errôneos e traçar metas financeiras, principalmente em termos de investimento. “Fazendo isso, reduzimos dívidas, conseguimos juntar e aumentar a nossa poupança, que guardamos para uma emergência ou um sonho. E tudo isso impacta na nossa qualidade de vida. Nós aumentamos nossa confiança nas tomadas de decisões. Até a nossa saúde melhora, sem estresses”