
Um dos momentos mais emblemáticos do filme “Ainda estou aqui” é a cena mostrando Rubens Paiva sendo levado de sua casa para prestar depoimento, diante do olhar sereno da esposa, Eunice. A personagem interpretada por Fernanda Torres acredita que aquilo era uma coisa banal e o marido voltaria para casa em breve.
Não só não voltou como o corpo desapareceu.
Essa mesma situação foi vivida por milhares de famílias durante a ditadura que castigou o país entre 1964 e 1985. Havia militantes de oposição ao regime ditatorial, sim, mas também pessoas comuns, que foram presas, interrogadas, agredidas, torturadas e mortas.
O ex-deputado federal Gastone Righi, que faleceu em 2019, sustentava que Santos foi a cidade com o maior número de prisõe, cassações políticas e perseguições. Apenas no navio Raul Soares, por exemplo, ficaram confinadas ao menos 263 pessoas, em situações desumanas.
Santos era um alvo preferencial da ditadura devido à quantidade de sindicatos de trabalhadores extremamente articulados. O mais impressionante é que este passado nefasto é ignorado pelos mais velhos, contemporâneos da época de brutalidade, e os mais jovens, que não têm a menor noção do que aconteceu.
E é justamente com o propósito de resgatar esse momento maldito que tramita na Câmara de Santos a criação do “Caminho da Memória, da Verdade e da Justiça”, um roteiro que nada tem de turístico, relacionando lugares que sediaram episódios de covardia que até hoje provocam ódio e nojo.
O projeto foi proposto pela então vereadora Telma de Souza (PT) e agora foi assumido pelo colega de partido Chico Nogueira.
“A memória é escolha e identidade, e quando selecionamos aquilo que queremos que permaneça na memória acabamos por escolher o tipo de sociedade que se quer. O desconhecimento é incompatível com o direito à verdade”, argumenta.
Alguns dos locais do Caminho da Verdade
O projeto de Telma relaciona 20 lugares onde aconteceram episódios marcantes e sugere a colocação de placas explicativas. Além de repartições onde ocorreram interrogatórios, prisões e assassinatos, o roteiro inclui também locais que sediaram manifestações contra a ditadura e a favor da retomada da autonomia política de Santos.
Casarão na avenida Conselheiro Nébias, 584
Foi sede do Departamento de Ordem Política e Social (DOPS). Durante anos, abrigou a Ciretran (órgão estadual que cuida do trânsito) e hoje está completamente abandonado.
Palácio da Polícia
Localizado na Rua São Francisco, 136, abrigou interrogatórios, torturas e detenções ilegais.
Cadeia Velha, na Praça dos Andradas
Foi usada para prender, interrogar e torturar dissidentes. Entre eles, o pai do ex-prefeito de Santos David Capistrano Filho.
Armazém 8 do Porto
Local onde embarcavam os presos políticos para ficarem confinados no navio-prisão Raul Soares.
Casarão na avenida Presidente Wilson, 14
O imóvel em frente à praia do Gonzaga era a residência da família de Rubens Paiva, tema central do filme “Ainda estou aqui”.
Esquerdistas querem estar lembrando do período do governo militar mas esquecem do atual que prende muitos inocentes e a corrupção continua em prejuízo dos mais pobres
Muitíssimo importante resgatar , restaurar, mostrar, vivenciar toda a história de um passado não tão distante de um Brasil de horrores. Escancarar a ditadura é obrigatoriamente fazer com que todos os brasileiros conscientize na mente e no coração que ” No Brasil Ditadura Nunca Mais”.
A reportagem é boa, mas poderia se aprofundar mais no tema. A sociedade não só se esqueceu como enaltece o período da ditadura.
O que mais causa espanto , não são os fatos que ocorreram, as famílias e vidas destruídas, mas a memória seletiva de muitos que ficaram e ainda estão aqui , apoiando os neo-fascistas, suas falas e atos nocivos, seus “políticos de estimação”, travestidos de cidadãos de bem. Deus, pátria, família, e liberdade ! De quem ?????
Projeto muito importante.