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Os versos satânicos, um premiado e polêmico livro

07/12/2022
Os versos satânicos, um premiado e polêmico livro | Jornal da Orla

Gibreel e Saladin, dois atores indianos, despencam do céu depois que terroristas explodem em pleno ar o avião em que viajavam. Todos morrem, exceto aqueles dois: ambos chegam ao solo de Londres em perfeitas condições. Mas não se pode dizer que tudo será como antes. Gibreel se transforma fisicamente num anjo, ao passo que seu colega Saladin se metamorfoseia em diabo.

Os versos satânicos é um clássico moderno que dialoga com um mundo despedaçado. O fanatismo religioso, a difícil questão da imigração e os terríveis fatos reais que decorreram da publicação deste romance explicam a mística que cerca o livro. A narrativa promove, com alegorias e fantasia, uma releitura sobre a origem da fé islâmica, o que provocou uma severa reação do mundo muçulmano.

Premiado com o prestigiado Whitbread Prize, o livro rendeu ao escritor frutos indesejáveis: proibição de distribuição em diversos países, queima do livro em praça pública, uma sentença de morte do líder do Irã (aiatolá Khomeini) e atentados de todo gênero. Em agosto deste ano, Salman sofreu um ataque a facadas nos EUA, do qual sobreviveu com sequelas.

Motivos para ler:

1- Salman Rushdie é indiano originário de uma família muçulmana liberal. Em 1989, quando aiatolá Khomeini anunciou sua sentença de morte e incentivou o povo muçulmano a executá-lo, sua vida mudou: passou a andar com escolta policial e é obrigado a se mudar com frequência. Como o ódio nunca arrefece, o atentado de agosto deste ano retirou-lhe um olho e o movimento de uma mão. Ele sobrevive;

2- Fanatismo não combina com paz e democracia. O fanático se enclausura em sua ideologia e faz de tudo para triunfar, ainda que seja preciso dar golpe de Estado, praticar crimes ou mesmo matar. O fanatismo tenta aniquilar Salman Rushdie há décadas, em franco arrepio à liberdade de expressão e demais direitos fundamentais. Quase conseguiram;

3- “Demônios demais dentro das pessoas que alegam acreditar em Deus”. Esta poderosa frase do romance sintetiza uma das facetas mais odiosas do extremismo: tantos falsos profetas que utilizam o nome de Deus em vão para justificar dominação ideológica, alopração das massas e até mesmo crimes. A fé é de foro íntimo e não deve ser manipulada pelos detentores de poder, daí a moderna noção – correta – da separação entre Estado e igreja.

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