A passagem do tempo transforma o professor num ser esquisito. Principalmente para as lentes de alunos adolescentes. Ano a ano, turma a turma, o professor vai se distanciando das gerações das novas salas de aula. Ele até tem a opção, difícil, de se renovar com linguagens, vestimentas, tecnologias, músicas e hábitos que vão surgindo. Mas a essência permanece e, em algum momento, vai fazer aflorar, inevitavelmente, esse lado dinossauro. É com essa visão jurássica que jovens 15, 20, 30 anos mais novos interpretam manias e vivências mal-resolvidas que mestres levam para as salas de aula.
Quem nunca teve um professor esquisito, que atire a primeira pedra.
O cinema já retratou esse abismo professor-aluno em alguns filmes marcantes como Ao Mestre com Carinho, em que Sidney Poitier vive o professor, ou Mentes Perigosas, com a professora encarnada por Michelle Pfeiffer. Alexander Payne, diretor experiente, coloca Os Rejeitados nesse pódium. Talvez na posição mais alta.
Primeiro pela delicadeza com que as esquisitices e as vivências mal-resolvidas do professor Paul Hunham vão sendo apresentadas no roteiro de David Hemingson. E depois pela magnífica construção desse personagem pelo ator Paul Giamatti.
Sem antecipar um único elemento da história, vale dizer que o foco do filme não está nem no professor, nem no aluno. Está no vinculo que pode se desenvolver entre personalidades complexas submetidas a situações de dificuldade e sofrimento. A prestigiada Barton Academy, nos Estados Unidos, quase deserta nas festas de Natal e Ano Novo, na passagem de 1970 para 1971, é o cenário. O professor, um aluno carente (Dominic Sessa) pela distância da família e a cozinheira-chefe (Da´Vine Joy Randolph), que perdeu um filho para a Guerra do Vietnã, são os rejeitados. Todos com atuações já premiadas.
A passagem do filme pelas telonas do Litoral foi meteórica. Se você não teve o privilégio de assistir a essa aula de cinema nelas, tem a opção da telinha. E não deve perder.
