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Origem, tradição e beleza da bênção cacerdotal: “Bircat Kohanim”

16/04/2025 Mendy Tal
Origem, tradição e beleza da bênção cacerdotal: “Bircat Kohanim” | Jornal da Orla

Nos dias intermediários de Pessach e Sucot, especialmente no Kotel, uma infinidade de fiéis se apresenta, testemunhando Bircat Kohanim, a benção sacerdotal. A imagem é magnetizante. Bircat Kohanim é a famosa oração judaica, também conhecida como benção Aarônica, recitada em alguns serviços da sinagoga.

É também chamada de Nesi’at Kapayim. Uma das traduções para este outro termo também pode ser: “estender as mãos”. É uma oração de bem-aventurança e felicidade especial para os filhos de Israel. É a benção baseada em Números 6:24-26.

Além disso, todos os dias pela manhã essa benção é recitada nas sinagogas de Jerusalém pelos kohanim, os descendentes do irmão de Moisés, Aarão, que serviram como sacerdotes no templo. Fora de Israel, ela é recitada somente em datas festivas.

A invocação, às vezes também chamada de bênção tríplice, é uma antiga prece recitada pelos sacerdotes (kohanim) no Templo Sagrado de Jerusalém. Hoje, é recitada nas sinagogas, mais comumente durante a oração Musaf, o serviço festivo adicional recitado após a leitura da Torá.

De acordo com a tradição judaica, Bircat Kohanim possui três frases e por isso promove uma benção tripla. É também o texto bíblico mais antigo encontrado em peças arqueológicas. Pêndulos da sorte e camafeus com as três frases inscritas foram encontradas em sepulturas no vale de Hinom, fora da cidade velha de Jerusalém.

O sacerdote é igual a todos os homens, porém, possui uma responsabilidade sobre os seus ombros; ser um canal, um instrumento de benção divina sobre a vida dos demais. Por isso a “Bircat Kohanim” ao ser recitado diante da comunidade, mostra a apreciação que nutrimos pelas dádivas de Deus no nosso cotidiano.

Na narrativa da Torá, Aarão abençoou o povo e Deus promete que “Eles (os sacerdotes) colocarão meu nome sobre os filhos de Israel e eu os abençoarei”. Os descendentes de Aarão

Chazal (conjunto de sábios da época mishnaica e talmúdica) enfatizou que, embora os sacerdotes sejam os que realizam a bênção, não são eles ou a prática cerimonial de levantar as mãos que resulta na bênção, mas sim o desejo de Deus que a bênção seja simbolizada pelas mãos dos Kohanim.

Antigamente, os sacerdotes recitavam a oração duas vezes por dia, de pé sobre um palanque especial conhecido como duchan (plataforma). Em algumas sinagogas, hoje em dia, é informalmente conhecido como “duchaning”.

Em muitas comunidades, é costume que os congregantes estendam seus talitim sobre a própria cabeça durante a bênção e não olhem para os Kohanim, enfatizando que é Deus quem nos abençoa através deles.

Se um homem tiver filhos, eles virão sob seu talit para serem abençoados, mesmo que sejam bem idosos.

Uma tradição comum entre os Ashkenazim de não olhar os Kohanim baseia-se no fato de que, durante a recitação dessa bênção, a Shechiná (presença de Deus no mundo e é frequentemente associada ao feminino) se apresenta onde os kohanim têm as mãos no gesto “shin”.

Ainda hoje a bendição é transmitida pelos pais aos filhos no Shabat, aos recém-nascidos na cerimônia de brit milá ou simchá bat e aos casais recém-casados sob a chupá.

A oração diz:Que o Senhor te abençoe e te guarde –

יְבָרֶכְךָ יהוה, וְיִשְׁמְרֶך

yevarechecha Adonai veyishmerecha

Que o Senhor faça Seu rosto iluminar você e tenha misericórdia de você –

יָאֵר יהוה פָּנָיו אֵלֶיךָ, וִיחֻנֶּךָּ

ya’er Adonai panav eleicha vichunecha

Que o Senhor levante o rosto para você e lhe dê paz –

יִשָּׂא יהוה פָּנָיו אֵלֶיךָ, וְיָשֵׂם לְךָ שָׁלוֹם

yissa Adonai panav eleicha veyasem lecha shalom[1]

De acordo com a tradição judaica, quando somos abençoados, somos nutridos de um poder benéfico que nos faz jorrar, brotar e fluir paz e felicidade, por isso, esta benção nos delega também autoridade para abençoar outros.

Quando abençoamos outras pessoas revelamos as qualidades da compaixão, da misericórdia, do amor, da bondade e tantas outras virtudes dignas.

Só podemos abençoar quando somos capazes de receber a benção, e só podemos receber a benção quando somos capazes de reconhecer um Deus abençoador.