Após anos de intenções e promessas, teve início, dia 22, a restauração do prédio que abrigou o colégio Acácio de Paula Leite Sampaio. É, sem dúvida, boa notícia, mas as obras, que devem durar um ano, exigem atenção das entidades de defesa do patrimônio histórico e cultural: o imóvel, inaugurado em 1969, é tombado desde 2016 e não pode ser descaracterizado.
Chefe da Seção de Patrimônio Histórico e Cultural de Santos (Sepasa), Marina Guimarães Destro afirma que, com a assinatura da ordem de serviço, o imóvel será incluído no calendário de vistorias e a restauração passará a ser acompanhada periodicamente.
“Nosso objetivo é assegurar que as obras sejam conduzidas de forma adequada, em conformidade com o projeto aprovado pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Cultural de Santos (Condepasa)”, garante. A Sepasa atua como órgão técnico do Condepasa, responsável pelas vistorias e elaboração de relatórios técnicos, acompanhando as intervenções.
A Câmara vai investir R$ 18.772.936,23, prevendo obras em todo o espaço (3,1 mil metros quadrados), do subsolo à cobertura e área externa. Durante evento de assinatura da ordem de serviço, dia 22, o vereador Adilson Júnior (PP), presidente do legislativo municipal, afirmou que o objetivo é “adequar completamente as dependências para abrigar partes das instalações administrativas”.
Outra proposta é a ampliação da Escola do Legislativo e da Cidadania, voltada à capacitação de servidores e à oferta de cursos à população. Porém, vale ressaltar que, atualmente, quase a totalidade dos cursos oferecidos pela escola – como indica o portal – é EAD (online).
Arquitetos e urbanistas dos polos regionais do Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB) e Docomomo, que agrega pesquisadores da arquitetura moderna, também prometem acompanhar de perto as obras. Foi a regional paulista da instituição, inclusive, que elaborou a carta enviada para a Câmara, Prefeitura e Condepasa, denunciando os mais de 10 anos de abandono do prédio tombado.
“Fizemos um movimento para a criação do polo regional do IAB e exigimos que a Câmara tomasse providências. Com a pandemia, o assunto ficou parado. Havia até uma conversa sobre a ideia de devolução do prédio para o Executivo”, conta Jaqueline Alves, integrante do Docomomo e IAB.
“Pelo fato de ser tombado, o imóvel precisa ser tratado como patrimônio histórico. Por exemplo, a limpeza que foi feita, sem acompanhamento de um órgão de preservação é grave, dá denúncia no MP. Fizeram do dia para a noite. A gente precisa ficar de olho, fiscalizar”, afirma.
Um marco da arquitetura modernista
Marina Guimarães Destro explica que o Colégio Acácio é um patrimônio cultural de grande importância para Santos, tanto por sua relevância histórica quanto por seu valor arquitetônico. Projetado pelo renomado arquiteto Décio Tozzi, o prédio é “um exemplar do estilo brutalista, caracterizado pela valorização dos materiais aparentes e pela funcionalidade dos espaços”. É um marco da arquitetura modernista no Brasil.
O prédio foi inaugurado em 1969 e abrigou cursos dos ensinos médio e técnicos, como Magistério e Contabilidade. Naquele mesmo ano, Décio Tozzi recebeu o prêmio de melhor projeto na Bienal Internacional de Arquitetura. Uma maquete do edifício está exposta no Museu do Louvre, em Paris. O prédio também chegou a ser cedido ao Estado, mas foi devolvido ao Município, que o cedeu à Câmara.
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