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Operação fracasso parte 2

23/02/2024
Divulgação/ Estado de São Paulo

O governador Tarcísio de Freitas e o secretário de Segurança Pública Guilherme Derrite reformularam nesta semana o comando da Polícia Militar de SP. O comandante, Coronel Cássio Araújo de Freitas, foi mantido. Mas, abaixo dele, 34 oficiais foram substituídos.

A justificativa oficial é protocolar: “Promoções por mérito e movimentações de rotina planejadas e executadas a partir de critérios técnicos.”

Difícil acreditar nessa rotina e nesse planejamento porque os coronéis substituídos foram pegos de surpresa. Alguns só ficaram sabendo da reformulação pelo Diário Oficial.   

A especulação mais forte fala que os comandantes substituídos batiam de frente com Derrite em dois pontos:

  • Ao contrário do secretário, aprovam o uso de câmeras nos uniformes para dar mais transparência e lisura às ações policiais.
  • Entendem que as operações no litoral não podem ser tão violentas nem provocar tantas mortes.

Na semana passada, na primeira parte deste artigo, se cobrava justamente esses dois pontos do governador e do secretário Derrite: mais inteligência e mais transparência e menos truculência nas operações no litoral. Foram apresentados os números do desmonte da Polícia Civil, que deveria responder pela inteligência nas investigações e que mal consegue dar conta do dia a dia das delegacias.

Os sintomas de que a Operação Escudo merecia a palavra fracasso no título daquele texto eram dois:

– A mudança do nome, pelo secretário, para “Terceira Fase da Operação Verão”. Se tivesse sido um sucesso, o nome seria mantido.

– O fato de seis meses depois os atentados de julho e agosto com morte de policiais terem se repetido no litoral. Se bem-sucedida a operação, essas mortes teriam sido evitadas.

A palavra fracasso continua no título dessa segunda parte. As mudanças no comando da PM também deixam isso bem claro. Se o formato da ação da PM fosse consensual, aprovado tanto pelos oficiais como pelo governador e pelo secretário, não teria sentido essa guinada tão forte no comando da PM.

Um vídeo que mostra uma operação descoordenada e desastrada da PM em São Vicente, no Parque Bitaru, no dia 9, e que resultou em dois tiros de um policial num funcionário público desarmado, escancara a tensão natural com que os policiais estão trabalhando. Alvos de bandidos, eles parecem estar reagindo sem uma estratégia bem definida. Neste vídeo, eles não fazem o polígono de defesa e chegam a ficar de costas para o grupo de moradores durante a confusão.

Numa outra ação controversa da PM em Sâo Vicente, o ouvidor das polícias de Sâo Paulo, Cláudio Aparecido da Silva, diz que um jovem de 24 anos morto em suposto confronto, era deficiente visual. Tinha Baixa Acuidade, progressiva, desde 2016, no olho direito, com menos de 10% da visão e, no olho esquerdo, não enxergava nada numa distância maior de 30 cm. Como poderia, então, ter apontado uma arma para os policiais, como consta no relatório?

Esses dois casos levantam dúvidas quanto à existência de uma estratégia bem planejada para enfrentar a criminalidade instalada no litoral. Aparentemente, os policiais militares estão sendo colocados em ações arriscadas, sem informações suficientes sobre as situações que vão enfrentar. Daí a tensão, a insegurança e a truculência.

E o pior é que as mudanças no comando da PM dão a entender que esse direcionamento tortuoso sai fortalecido e vai continuar prevalecendo. Tradução: governador e secretário não reconhecem o fracasso retumbante das operações.