A obra-prima de Stendhal
Há livros que, em definitivo, subiram aos céus dos clássicos e lá ficarão enquanto a humanidade andar sobre a terra. O vermelho e o negro faz parte dessa estirpe. Publicado em 1830, continua sendo aclamado por crítica e público como um dos melhores romances de todos os tempos.
Ambientado na França pós-napoleônica, o romance acompanha os anos de formação de Julien Sorel, um provinciano de família simples que aspira alcançar as mais importantes esferas de poder da sociedade parisiense. Valendo-se de sua inteligência – ainda que pontuada por uma certa ingenuidade -, de sua beleza e de seu senso inabalável de dever, Julien abandona a vida frugal para dar vazão ao seu sonho de grandeza. Para tanto, ingressará no seminário local (não pela fé, mas por ser a única opção para um homem simples ascender a cargos elevados), se sujeitará a desempenhar trabalhos domésticos para uma relevante família, galgará promoções importantes e será amante de duas mulheres comprometidas.
Sob os influxos de uma difícil situação política marcada por uma tensionada estratificação social entre uma aristocracia descolada da realidade e o povo humilde insatisfeito, a ascensão e queda de Julien explora com virtuosismo as sinistras contradições do coração humano.
Motivos para ler:
1- O francês Marie-Henri Beyle (1783-1842) adotou o pseudônimo Stendhal para assinar suas obras. Entretanto, passou praticamente despercebido pelo seu tempo. Tarsila do Amaral, ao prefaciar uma edição brasileira, lembra que “foi Balzac quem deu o alarma, acordando a Europa do seu indiferentismo para um gênio imenso”. É sempre referenciado nas listas dos melhores escritores da história;
2- Um aspecto digno de nota é o trabalho lapidar sobre cada capítulo. Um livro denso, grande, mas que nunca cansa o leitor: como um arquiteto que compõe cada detalhe de cada ambiente, Stendhal edifica a tragédia de Julien com pena de ouro e surpreende a cada capítulo;
3– O vermelho e o negro é um romance psicológico, já que trabalha a todo tempo a mente imprevisível, perturbada e ambiciosa de Julien Sorel. O grande trunfo do livro é não caracterizar Julien simploriamente como um frio e calculista alpinista social. Ao contrário: inteligência e inocência caminham juntas na trajetória do jovem, que se vê enredado em situações extremamente aflituosas e em amores arrebatadores com os quais não consegue lidar, culminando no desfecho fatídico.
…
Este artigo é de responsabilidade do autor e não reflete a linha editorial e ideológica do Jornal da Orla. O jornal não se responsabiliza pelas colunas publicadas neste espaço