É verdade que de tudo e sobre tudo já se escreveu neste mundo. Os sentidos humanos, por exemplo, sempre foram frequentemente explorados na linguagem literária como um poderoso recurso estilístico para criar drama, poesia, vigor, brutalidade, erotismo. Süskind, no entanto, levou tudo isso às últimas consequência com seu livro O perfume. O autor valeu-se do “mais baixo dos sentidos, o primitivo órgão do olfato” para construir a terrível epopeia de Jean-Baptiste Grenouille.
Abandonado pela mãe quando nasceu, Grenouille viveu desde a primeira infância em meio a privações e muito trabalho. Desde sempre repudiado, o jovem desenvolve uma sublime sensibilidade olfativa e, quando o acaso o leva ao ateliê do maior perfumista de Paris, ousadamente expõe seu dom e causa perplexidade. Começará aí a tortuosa jornada épica de Grenouille, que fincará seu propósito de vida e o perseguirá com obstinação até o final apocalíptico.
Motivos para ler:
1-O alemão Patrick Süskind causou furor no mercado literário mundial quando lançou O perfume (1985); afinal, é raro um escritor desconhecido entregar um livro de estreia com tanto fôlego e originalidade. Tornou-se best-seller e é um título conhecido no mundo todo;
2- Livros pluralmente editados requerem critério na escolha, mormente quanto à tradução (vale o alerta). De toda forma, O perfume é um texto formidável e muito bem escrito. Há capítulos particularmente brilhantes. Destacamos o cap. 11, quando o grande perfumista Baldini medita sobre o futuro de forma cética – eis ali um brevíssimo tratado sobre o ressentimento e a síndrome do impostor;
3- O livro ganhou adaptação cinematográfica em 2006. O elenco é estrelado (Bem Whishaw e Dustin Hoffman) e a produção é de primeira linha, mas o resultado divide opiniões. Certo é – e costuma ser assim – que o livro se apresenta muito melhor do que o filme.
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