Saúde

O mundo estranho dos sonâmbulos

09/03/2014Da Redação
O mundo estranho dos sonâmbulos | Jornal da Orla
Dentre os distúrbios do sono, o sonambulismo é o que gera mais lendas, piadas e curiosidade, mas não é tão inofensivo quando parece. Como as funções motoras da pessoa despertam, mas sua consciência permanece inativa, há o risco de sofrer quedas de janelas e de escadas ou acidentes com objetos de vidro ou pontiagudos. A imagem do sonâmbulo caminhando com braços estendidos e de olho fechados é fantasiosa, segundo os especialistas. Quem sofre de sonambulismo costuma andar normalmente, de olhos abertos e com expressão vaga e distante. 
 
O comportamento ocorre com algumas pessoas a partir do sono profundo, chamado de sono de ondas lentas. Durante esta fase, o sonâmbulo levanta dormindo, caminha e fala, porém seus estados de consciência, memória e a capacidade de julgamento ficam alterados. “O paciente realiza atividades, porém sem objetivo, sem memória e é muito difícil acordá-lo. E na maioria das vezes, não se lembra do que fez”, explica o neurologista Paulo Rogério M. de Bittencourt.
 
O sonambulismo faz parte de uma categoria maior de distúrbios relacionados ao sono, conhecidos como parassonias, que também incluem terrores noturnos, distúrbio de comportamento do sono paradoxal, síndrome das pernas inquietas. Paulo Bittencourt comenta que a doença é hereditária e comum na infância. “Ocorre principalmente entre os quatro e oito anos, quando elas passam por alterações do sono”, destaca. Aproximadamente, 30% das crianças apresentam episódios de sonambulismo durante a infância. Na fase adulta há 4% de prevalência. 

O que fazer – Reza a crença popular que é perigoso acordar um sonâmbulo, mas, segundo os especialistas na área, o perigo está em não fazê-lo. O despertar, contudo, deve ser feito com cautela, pois alguns sonâmbulos podem ficar confusos e até mesmo ser violentos. “O sonâmbulo deve ser acompanhado com calma. Tente levar a pessoa para um local seguro, propiciando um ambiente calmo, fresco, escuro, silencioso para que o sono do paciente volte”, orienta o neurologista. Para evitar acidentes, é preciso se preocupar com janelas de andares altos, tapetes e móveis que possam levar o sonâmbulo a quedas. 

Álcool e remédios – Segundo o neurologista, episódios de transtornos semelhantes ao sonambulismo podem ser observados em pessoas que utilizam álcool, drogas ou medicamentos, em especial os de tarja preta, como, por exemplo, o diazepam, clonazepam, alprazolam, e os medicamentos indutores de sono como o zolpidem. “Em qualquer dessas situações o paciente com o distúrbio do sono deve ser acompanhado por um médico de confiança da família. O profissional é essencial para tratar o problema e evitar complicações mais graves”, afirma.

Casos notáveis
Na maioria dos casos, o sonambulismo consiste de atividades corriqueiras como sentar-se na cama, andar a passos lentos pela casa e vestir-se ou tirar a roupa. Uma minoria manifesta comportamentos mais complexos, como preparar refeições, fazer sexo, pular janelas e dirigir – enquanto na verdade ainda estão dormindo. 
Houve um caso no qual um homem escalou uma montanha durante o sono, e acordou apenas lá em cima. O incrível é que bombeiros cheios de equipamentos levaram horas para alcançá-lo no alto da montanha, muito íngreme. Em 1987, o canadense Kenneth Parks dirigiu 23 km até a casa dos sogros durante um episódio de sonambulismo. Chegando lá, esfaqueou a sogra e estrangulou o sogro. Foi absolvido porque cometeu os crimes em estado de inconsciência.

Distúrbios mais comuns do sono


O Dia Mundial do Sono, 14 de março, este ano tem como slogan “Sono restaurador, boa respiração, corpo saudável”. A iniciativa é da Associação Mundial de Medicina do Sono (World Association of Sleep Medicine – WASM) e visa à redução das consequências dos problemas do sono na sociedade através da prevenção e tratamento dos transtornos do sono.
Atenção à postura, a utilização do travesseiro correto, um ambiente fresco e ventilado e uma alimentação leve antes de dormir podem auxiliar na conquista de um sono repousante, mas se a dificuldade ainda persistir é hora de buscar ajuda médica, pois a pessoa pode estar sofrendo de algum distúrbio do sono. O sonambulismo é um deles. Confira outros:
Insônia – Caracteriza-se pela dificuldade em iniciar e manter o sono ou dormir de maneira não reparadora, o que acarreta repercussão nas atividades diurnas. A pessoa se sente cansada, irritada, sonolenta, com dores no corpo, desanimada, mal-humorada e apresenta alterações de memória. 

Ronco – O ronco é mais frequente em homens, pessoas obesas e piora com a idade. O ronco se classifica em leve, moderado e severo, tem predisposição genética pela própria formação da via aérea e também ambiental.

Apneia – Trata-se da diminuição ou interrupção da respiração por, no mínimo, 10 segundos, levando a pessoa a despertar várias vezes durante a noite. O transtorno é mais comum em homens de meia idade acima do peso e mulheres após a menopausa. Entre outras consequências, é fato de risco para doença cardiovascular.

Síndrome das pernas inquietas – É um distúrbio caracterizado por agitação involuntária dos membros inferiores, mas que pode ocorrer também com os braços, nos casos mais graves. Em geral, os sintomas são mais intensos à noite, fazendo com que a pessoa durma mal ou quase não durma. 

Narcolepsia – Ataques irresistíveis de sono frequentes e repentinos, que podem ocorrer em situações em que é necessário estar atento, como ao comer, caminhar, dar entrevistas. Muitas vezes, é tão incontrolável que a pessoa chega a dormir em situações perigosas. 
 

Terror noturno – A pessoa senta na cama e começa a gritar, parece apavorada; mas depois se deita novamente e também não lembra do fato. Os médicos recomendam não acordá-la durante o episódio, porque ela está em um estado de consciência que “mistura” sono profundo e vigília. É mais comum em crianças.

Pesadelos – São sonhos assustadores que usualmente interrompem o sono subitamente por um medo intenso, ansiedade e sentimentos de perigo iminente. As causas podem ser o estresse e a própria falta de sono. Pessoas que sofrem muitos pesadelos ficam com medo de dormir. 

Paralisia – Basicamente a pessoa sabe que está acordado e quer se mexer, mas não pode. O distúrbio, de curta duração, já gerou várias lendas ao redor do mundo. 

Distúrbio do comportamento REM – Ele é o contrário da paralisia. Quando está em sono REM, a pessoa vivencia o que está sonhando, se movendo demais e podendo se machucar. 

Enurese – A criança urina na cama durante a noite. Há dois tipos: enurese primária, em que crianças com mais de 5 anos não conseguem controlar a liberação de urina; e enurese secundária, em que conseguiam controlar e depois voltam a urinar. As causas podem ser emocionais ou hormonais.

Bruxismo – É o ato de ranger ou apertar os dentes durante o sono, o que pode ocasionar  dor facial, desconforto muscular ao morder, dores de cabeça, desgaste dos dentes e danos à gengiva.