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O livro branco

23/10/2024
O livro branco | Jornal da Orla

A singular poética da nova Nobel de Literatura 

Outubro é um mês de destaque no calendário literário mundial. Críticos fazem suas projeções, leitores se agitam, burburinhos atravessam bibliotecas: é tempo de anunciar o(a) vencedor(a) do Prêmio Nobel de Literatura. Neste ano, a Academia Sueca atribuiu a láurea à sul-coreana Han Kang sob a seguinte epígrafe: “pela sua intensa prosa poética que confronta traumas históricos e expõe a fragilidade da vida humana”.

Recentemente vertido para o português, O livro branco é um exemplo eloquente do talento da escritora. Partindo de uma simples lista de coisas brancas, a escritora, em tons autobiográficos, trabalha elementos delicados com a erudição própria de quem domina seu ofício para entregar uma poética muito distinta. A cor branca – associada ao luto em algumas partes da Ásia – é a protagonista, permeando e unindo todos os pequenos textos que compõem o livro.

Trata-se de um livro meditativo, habilmente construído sob o pálio de uma branca tristeza que, se por um lado despedaça o coração, por outro traz lampejos de uma vida que não se apaga; afinal, “aprender a amar de novo a vida é um processo longo e complicado”.

Motivos para ler:

1- Han Kang ganhou enorme repercussão no Brasil e no mundo pelo seu intrigante e elogiado romance A Vegetariana.  Considerando os prêmios importantes e a crítica favorável que a autora já vinha angariando, o Nobel não foi uma surpresa. Ela esteve na FLIP em 2021. Imagine a felicidade de quem conseguiu um livro autografado daquela que viria a se tornar, 3 anos depois, uma Nobel de Literatura;

2- A estrutura de O livro branco é um diferencial. Dividido em três partes (“eu”, “ela” e “toda a brancura”), cada qual constituída por pequenos textos construídos sob uma prosa poética belíssima, o leitor certamente se sensibilizará com este livro de profundidade enorme e, ao mesmo tempo, de simples e fluida leitura;

3-  O eixo central da obra reside em uma perda dolorosa vivida pela autora na sua infância. As reflexões que resultam desse evento são sublimes. Um livro para ler e reler.