Crônica

O fracasso retumbante da ditadura militar 64-85

30/08/2024
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Faz 40 anos que a campanha das Diretas-Já exorcizou a ditadura militar brasileira e asfaltou o percurso para a restauração da democracia no país.

As lembranças positivas que o período 1964 – 1985 deixou estão ligadas principalmente às obras de infraestrutura. O Metrô e o Minhocão de São Paulo, a Ponte Rio-Niterói, as hidrelétricas de Itaipu e Tucuruí e a Transamazônica estão entre essas obras. No plano institucional, vale registrar a criação do Banco Central e do FGTS, o Fundo de Garantia.

As lembranças negativas que caracterizam os Anos de Chumbo estão vinculadas principalmente às torturas, às execuções sumárias e à tenebrosa e estúpida censura imposta às artes e à comunicação jornalística. Há o registro de 434 mortos e desaparecidos por motivos políticos. E convém lembrar a ação do Esquadrão da Morte, organização clandestina de policiais que, em 6 anos, entre final dos anos 60 e início dos anos 70, fez mais de mil execuções sumárias.

Essas impressões mais fortes, que a História consolidou, tornam a visão da ação da ditadura nos 21 anos de poder bipolar: conservadores (ou direitistas) aprovam e progressistas (ou esquerdistas) reprovam.

Mas essa controvérsia política não traduz a realidade.

O economista Alípio Labão, nesta semana, no programa Opinião, da TV Cultura Litoral, fez uma leitura muito mais objetiva e interessante daquele período. Na visão que ele expressou, o fracasso da ação dos militares é absoluto. Retumbante.

Diz o Alípio que o golpe militar tinha 3 objetivos principais: combater a inflação, a ameaça comunista e solucionar a questão da dívida externa brasileira, insustentável.

No primeiro quesito, o que dizem os números? A inflação de 12 meses em março de 1964 era de 69,9%. Em 1984, ano em que João Figueiredo, o último presidente militar entregou a rapadura, a inflação foi de 223%. Os militares devolveram o país com uma inflação mais de 3 vezes maior do que a que pretendiam combater.

Na dívida externa, o fracasso é ainda mais estrepitoso. A dívida “insustentável” externa estava na casa de 3,6 bilhões de dólares em 1964, quando o Marechal Castelo Branco assumiu a presidência. E tinha se multiplicado quase 30 vezes, para 105,1 bilhões de dólares quando o general João Figueiredo saiu pelos fundos do palácio, em 1985 e não entregou a faixa presidencial para José Sarney.

Ah, mas a ameaça comunista foi varrida, você pode estar pensando. Engano redondo. A herança da ditadura, nesse campo, foi o maior partido de esquerda do Ocidente, o PT.

O combate à corrupção não estava entre os objetivos explícitos. Mas também aí o fracasso foi espetacular. A ditadura militar legou ao país Paulo Maluf, símbolo da corrupção no século passado, e a nefasta prática inaugurada por ele e da qual o país nunca mais se livrou: a da compra de votos de parlamentares.

Maluf começou a carreira como presidente da Caixa Econômica Federal indicado pelo marechal Costa e Silva, no final de década de 60. Conseguiu o cargo, dizem as fofocas, dando de presente para a então primeira-dama, Yolanda Costa e Silva, um anel de diamante.