O trabalho sempre foi um eixo de discussões ao longo da história. O embate entre capital e trabalho é constante: de um lado o proprietário do capital com sua pretensão de maximizar lucros -não raras vezes à custa da precarização da mão de obra-; de outra parte, o trabalhador em busca de melhores salários e condições de trabalho. A tensão entre esses dois pilares do capitalismo pode produzir bons frutos, equalizando a relação de trabalho em bases mais saudáveis para todos.
Entretanto, o mundo é curioso. Há, nos tempos atuais, um movimento pelo culto desenfreado ao trabalho, mas sem a devida valorização. O “coaching” ensina a trabalhar enquanto os outros dormem. Rituais motivacionais ridículos são impostos a trabalhadores que ganham pouco. Prega-se a meritocracia, quando o sucesso, muitas vezes, é simples decorrência do lugar onde se nasceu. Mas nada disso é novo, ensina este livro clássico e atemporal de Paul Lafarge.
O direito à preguiça foi escrito em 1880 e questiona a devoção ao labor que acometeu os operários da época, quando, aloprados pelas más condições de vida, sujeitavam-se às desumanas imposições dos patrões. Irônico, engraçado, com reflexões interessantes e macabras, o livro, nas devidas proporções, mostra-se bastante atual.
Motivos para ler:
1- Nascido em Cuba e radicado na França, Paul Lafargue viveu intensamente. Subversivo, defendeu a Comuna de Paris com paixão, o que lhe rendeu diversas prisões. O direito à preguiça é seu legado: este pequeno livro se tornou um clássico e é lido por todas as gerações em todo o mundo;
2- Apesar do sarcasmo e da ironia, o livro se funda em bases sérias. O autor demonstra conhecimento da antiguidade grega, época em que os filósofos colocavam o trabalho no devido lugar: a felicidade não se encontra no trabalho, mas no tempo livre e no ócio bem aproveitados;
3- O autor, em 1880, defendia a redução da jornada de trabalho para 3 hs. diárias. Suécia e Holanda possuem uma média de 6 hs. diárias de trabalho. E você? Está satisfeito com as condições atuais e acha que é recompensado adequadamente pelo esforço diário que provê?
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