Novecentos

Às vezes é assim: escreve-se um texto e não se sabe a qual categoria ele pertence. O festejado italiano Baricco escreveu Novecentos a pedido de um diretor de teatro, mas nunca achou que o texto fosse exatamente uma peça. Convencido de que tinha em mãos uma bela estória, lançou-a como um pequenino livro. Romance, conto, teatro? A catalogação não importa. Baricco estava certo: é uma estória lindíssima.

Tudo se passa a bordo do navio Virginian, palco de um insólito evento: é encontrada, sobre o piano do salão de baile do navio, uma caixa de papelão com um bebê abandonado. Adotada pela tripulação, a criança é batizada com o pomposo nome de Danny Boodmann T.D. Lemon Novecentos.  Sempre a bordo do navio, Novecentos crescerá, aprenderá a tocar piano e se tornará o maior de todos. Músicos ilustres embarcam para ouvir e desafiar o prodígio dos oceanos, e todos ficam estarrecidos com o jovem talento.

Após 32 anos vividos sobre o mar, o imponderável da vida imporá a Novecentos um enorme desafio. E Novecentos descobrirá que seu teclado não era infinito como supunha ser e que há, enfim, uma música que ele não sabe tocar.

Motivos para ler:

1- Alessandro Baricco, italiano de Turim, é, não por acaso, um colecionador de prêmios literários. Bastante lido no Brasil, sua obra de maior destaque é o excelente romance Seda;

2- O leitor atento notará comoventes metáforas ao longo do conto. A devoção à música, a vida enclausurada num navio e o receio de abandoná-lo – o que conduz Novecentos ao seu terrível e poético ato final – constituem os delicados elementos deste virtuoso texto;

3- Eis aqui uma excelente estória muito bem escrita que pode ser lida como um simples conto ou numa perspectiva mais sofisticada. Agradará desde o leitor ocasional até o mais exigente. É exatamente disto que, no fim de todas as coisas, a boa literatura é feita.

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