Certamente não possuem o virtuosismo de Joshua Bell ou Lindsey Stirling, no entanto estão se destacando e levando de forma mais do que positiva o nome de Santos para outros locais, inclusive para um dos principais polos musicais do planeta, a universidade de Berklee.
Inspiração e talento não são, como muitos imaginam, os principais ingredientes do sucesso (que ainda se inicia) destes jovens prodígios. Horas de estudos diários, calos nas pontas dos dedos e suor são essenciais para um bom desempenho musical. Alguns até abrem mão dos finais de semanas e feriados para estudar. Mas se submetem a tudo isso por amor. Amor à música.
Caminho virtuoso
Para Jeff Moura, não há lugar nem hora certa para estudar. Quando bate a inspiração, ele acomoda seu violoncelo entre as pernas e se põe a tocar, independentemente de estar em seu quarto, na orla da praia ou mesmo na rua, cercado pelo barulho e a fumaça do trânsito.
Tanta sede de aperfeiçoamento lhe rendeu uma bolsa de estudos de 80% de desconto em um dos mais conceituados cursos de música do mundo, a Berklee College of Music, em Boston, nos EUA. “Deus abriu portas diferentes, que eu nem esperava. Fiz um curso de férias na Berklee e fiquei sabendo de um teste para bolsa de estudos. Três dias antes da avaliação, o arco do meu instrumento quebrou e não tinha lugar aberto pra comprar um outro. Consegui um arco cinco minutos antes de a prova começar”, lembra.
Jeff, porém, ainda está no Brasil por falta de recursos financeiros, por isso está buscando apoio. Após o curso, ele pretende voltar ao Brasil e dividir todo o conhecimento com outros músicos. “No Brasil, a música é forte, mas não há incentivo nem tanto, exceto por raros casos como o Instituto Pão de Açúcar”.
Futura maestrina
Delicadamente, Ilana Morena retira seu violino do estojo. Com muito cuidado, a jovem assopra-o para retirar a pouca poeira acumulada e o empunha entre o ombro e o queixo. O esmero é tanto que a impressão é de que a musicista toca um raro Stradivarius do século 18. Mas, na realidade, se trata de um violino industrializado, porém feito com madeiras nobres.
É apenas o início de uma rotina diária. São horas de estudos. “O vibrato com o dedo mínimo tem que sair perfeito”, justifica.
Ilana participa de diversos grupos: da orquestra da igreja da Pompeia ao projeto ‘Pra ver a banda tocar’, da Prefeitura de Santos, passando pela banda da Seduc de Santos e na Orquestra Evangélica da Baixada Santista. Talentosa multi-instrumentista, ela domina o violão, piano e trompete. E estuda violino e canto coral. “Sonho ser uma maestrina e arranjadora. Toco todos esses instrumentos para conhecê-los com intimidade”, explica. “Quero ser bacharel em violino ou regência. A minha meta é tocar em uma grande orquestra brasileira”.
Geração que promete
Jeff Moura não foi o único jovem músico santista a fazer o curso de férias na Berklee College of Music. Em sua companhia foram também os contrabaixistas Gabriel Macieski e Jonathas Simões Santiago dos Santos. “Dos dez alunos de todas as unidades do Projeto Instituto Grupo Pão de Açúcar selecionados para fazer o curso na Berklee, três são santistas, o que considero um grande número”, disse o maestro da unidade de Santos do Instituto Grupo Pão de Açúcar (IGPA), Daniel Misiuk. Para ele, a quantidade de jovens interessados na música erudita está crescendo.
De acordo com a maestrina da Orquestra Evangélica da Baixada Santista, Lana de Castro, a região garante muitas opções para os jovens que se dedicam ao estudo de música erudita. “Santos é a cidade dos instrumentos de cordas. Já Cubatão é forte nos de sopro. Nossa região, em geral, conta com projetos sociais que oferecem ensino musical gratuito. Porém, necessitam de apoio. Seria interessante se as prefeituras e o Governo do Estado criassem novos convênios, pois a música desenvolve a criatividade, o social, a perseverança, o que contribui com a formação de seres humanos mais sensíveis. A sociedade agradeceria”.
Orquestra na Rua
Imagine uma orquestra se apresentando ao ar livre. Sim, existe e essa ideia excêntrica partiu de um pequeno grupo de jovens santistas que há mais de cinco anos já conquistava a atenção dos transeuntes do Gonzaga com apresentações de música erudita. O grupo que se chamava Quarteto de Rua prosseguiu e tomou novas formas quando os jovens apostaram na criação da Orquestra de Rua.
“Como estamos na ativa há bastante tempo, acabaram passando vários amigos pelo Quarteto de Rua. A orquestra começou a tomar forma quando imaginamos como seria legal reunir todos estes músicos em uma apresentação”, explicou o violoncelista Matheus Bellini.
Por enquanto, Matheus e seus amigos são voluntários e todo valor arrecadado está sendo destinado para a realização do evento. “Para que a Orquestra na Rua continue existindo, precisamos de patrocínios. Sinto que damos uma grande contribuição, tanto no lado artístico, quanto no social. Além de oferecer ao público instrumentos e repertório desconhecidos por parte da população, abrimos oportunidades a centenas de músicos que nunca haviam realizado intervenções artísticas em locais públicos”.
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