A ciência, o conhecimento e a tecnologia dão um auxílio luxuoso para homens e mulheres prolongarem a vitalidade, a aparência e a libido.
Uma leitora, Elena, pede uma crônica sobre a dificuldade de iniciar um relacionamento amoroso depois dos 50 anos. Ela tem 52.
A preocupação relativa a essa questão não é só dela. O número de divórcios depois dos 50 aumentou muito nas últimas décadas. E consequentemente, também o número de pessoas tentando reconstruir a vida amorosa nessa faixa de idade.
No YouTube você, leitora / leitor, encontra uma cena que representa bem essa realidade. Roberto Carlos canta, em dueto com o ator Alexandre Nero, a música Mulher de 40:
“…É jovem bastante / Mas não como antes / Mas é tão bonita / Ela é uma mulher / Que sabe o que quer / E no amor acredita…”
Na hora em que a dupla canta o refrão “Mulher de quarenta…”, a plateia pede: “mulher de cinquenta, mulher de sessenta…”.
Os limites que até a primeira metade do século passado caracterizavam claramente essas idades metrificadas em décadas ficaram mais indefinidos. A ciência, o conhecimento e a tecnologia dão um auxílio luxuoso para homens e mulheres prolongarem a vitalidade, a aparência e a libido: da reposição hormonal ao Viagra, das academias às tinturas de cabelos, das cirurgias bariátricas às dietas em que as calorias são milimetricamente dosadas.
Os problemas começam, explica a psicóloga Paula Carvalhaes, quando cinquentões e cinquentonas novamente apaixonados carregam para os novos relacionamentos as bagagens dos últimos 20, 30 anos: filhos, pais idosos, pensões, desorganização pessoal, dívidas…
Uma pessoa se apaixona pela idealização que faz da outra. E muito raramente essa idealização inclui essa bagagem que vai se desvelando à medida em que o outro vai se mostrando como realmente é.
Um outro fator dissonante é o enfraquecimento dos vínculos, instituições e identidades neste século 21. A precariedade e o individualismo são as marcas dessa “modernidade líquida” conceituada pelo filósofo polonês Zygmunt Bauman.
Os afetos escorrem por mãos cada vez mais ansiosas por eles.
Mas o pote de ouro do outro lado do arco-íris para casais que atravessam esse deserto de bagagens pesadas e liquidez está entre os mais compensadores da vida.
Namorar, também é a psicóloga Paula Carvalhaes que explica, torna a vida mais saudável, aumenta a longevidade, faz com que as pessoas se cuidem mais e, nessa fase cinquentenária, pode levar a uma plenitude sexual. Nenhum outro investimento tem um custo / benefício tão alto: o companheirismo dá um chega pra lá na solidão e, nas relações que conciliam afeto, construção e cumplicidade, o prazer de viver de cada um dos namorados fica muitas vezes multiplicado.
A travessia desse deserto exige, segundo o pensador alemão Erich Fromm no livro a Arte de Amar, coragem, fé, disciplina e humildade. E a relação com o outro, para Fromm, tem de estar sustentada em quatro pilares: responsabilidade, respeito, conhecimento e cuidado. Mas isso já é uma outra pauta que fica para uma outra crônica.
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