Em um país sem memória, celebrar o dia das mulheres se limita a novos rostos e citações de fatos e pessoas recentes. É triste esquecer as personagens femininas que tiveram a coragem de ir além do que muitas celebridades de hoje não teriam coragem. Luz del Fuego, Elvira Pagã, Virginia Lane, Leila Diniz, Elke Maravilha, entre outras foram símbolos de uma época onde uma foto ou o uso de uma roupa (ou a falta dela) resultavam em prisão.
Para as novas gerações essa época se assemelha ao Século XIX, distante, sem registros, mas se lembrarmos que as mulheres só passaram a poder votar em 1932, abre-se a janela histórica de que a emancipação feminina veio de forma tardia. A primeira Deputada Federal foi eleita em 1934 e foi a única mulher no Parlamento naquela época. Mesmo avançando mais, Doca Street alegou legítima defesa da honra (masculino) em 1979, quando foi julgado pelo assassinado de Angela Diniz. Por essa tese o adultério praticado pela mulher passou a ser o único crime com aplicação da pena de morte em nosso direito. Em 1970 Janis Joplin trouxe o topless para Copacabana (mas as pioneiras nacionais foram Luz del Fuego e Leila Diniz) durante a Ditadura. Iniciou-se um movimento pela prática no Rio que resultava em prisões por atentado ao pudor.
Vivemos em contrapartida e talvez por isso, o exagero nas ações afirmativas. Desde 1945 com a CLT homens e mulheres têm que receber o mesmo salário se desempenham a mesma função. Mas usar isso para comparar salários de esportistas e artistas não tem muito cabimento, pois nesses casos a remuneração é proporcional à receita proporcionada pela atividade. O resultado desse exagero é justamente o medo generalizado de que nos tornemos uma sociedade que impede as relações sociais. Se tudo virar assédio como os casais surgirão? Através de requerimentos e contratos prévios?
Imagino o momento em que meu pai pediu uma pipoca para minha mãe na calçada da praia do Boqueirão e se conheceram, casando-se 2 anos depois. Como seria hoje? Minha mãe chamaria a Guarda Municipal ou postaria o assédio, no Instagram? Temos que pensar em que mundo queremos viver, senão para nós, para nossos filhos e netos.
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