Teatro

Mirada 2022 destaca laços com Portugal, mudanças climáticas e estimula reflexão

09/09/2022
Divulgação

Acontece em Santos entre 9 e 18 de setembro o 6º Mirada, Festival Ibero-Americano de Artes Cênicas que é realizado de dois em dois anos e nesta edição terá 36 espetáculos de teatro, dança e performance de 13 países, além de atividades formativas, instalação interativa e encontro com programadores e diretores de festivais de artes cênicas.

Integram a programação obras vindas de Argentina, Bolívia, Chile, Colômbia, Cuba, Equador, Espanha, México, Peru, Portugal, Uruguai e Venezuela. Há, ainda, produções nacionais de coletivos de Sergipe, Distrito Federal, Rio de Janeiro e São Paulo. As peças, muitas delas vistas pela primeira vez por aqui, abordam uma série de temas contemporâneos, como aspectos da colonialidade, resistência das democracias e questões ambientais.

São rodas de conversa, oficinas, performances, lançamentos de livros e outras variantes de encontros abertos.
Outro destaque da programação é a conferência com a participação da filósofa Djamila Ribeiro, no sábado (10), às 11h, no Sesc.

Homenagem a Portugal
Em 2022, ano do bicentenário da Independência do Brasil, o evento presta homenagem a Portugal. As oito obras lusas, além de uma coprodução luso-chilena, refletem a diversidade cênica do país e abordam criticamente os sintomas da colonização e os processos migratórios.

Em “Viagem a Portugal, última paragem ou o que nós andámos para aqui chegar”, peça que abre esta edição do festival, o grupo Teatro do Vestido parte do livro homônimo do escritor José Saramago para pensar, à luz de hoje, o país no qual a ditadura durou 48 anos.

A história portuguesa também é revisitada em “Os Filhos do Mal”, obra de teatro documental da companhia Hotel Europa. Nela, filhos, netos, bisnetos e sobrinhos de presos políticos que cresceram depois da Revolução dos Cravos, responsável pelo fim de mais de quatro décadas do regime salazarista, levam suas trajetórias para a cena.

Já “Brasa”, trabalho do artista performativo e visual Tiago Cadete, foca em grupos migratórios entre Portugal e Brasil, e “Cosmos”, das atrizes e performers Cleo Diára, Isabél Zuaa e Nádia Yracema, de ascendências cabo-verdiana, portuguesa e angolana, respectivamente, revisita a mitologia africana para ficcionalizar o nascimento de um novo mundo afeito ao afrofuturismo.

Mirada foca defesa do meio ambiente
A questão ambiental, em especial a Amazônia, é abordada em dois espetáculos: “Teatro Amazonas”, idealizado pela coreógrafa espanhola Laida Azkona Goñi e o videoartista chileno Txalo Toloza-Fernández; e “La Luna en el Amazonas”, do Mapa Teatro, da Colômbia.
Idealizado pela coreógrafa espanhola Laida Azkona Goñi e o videoartista chileno Txalo Toloza-Fernández, “Teatro Amazonas” faz um inventário das violências no norte do país a partir de viagens aos estados do Amazonas e do Pará.

Dirigido pelos irmãos Heidi Abderhalden e Rolf Abderhalden, o espetáculo “La Luna en el Amazonas”, do Mapa Teatro, de Bogotá, tem sua narrativa focada na porção territorial da floresta tropical do país vizinho onde, em 2019, foi noticiada a existência de comunidades indígenas que vivem isoladas por autodeterminação.

Estreias mundiais no Mirada
Duas criações inéditas podem ser vistas durante o festival. Em “FRONTE[I]RA | FRACAS[S]O”, parceria dos grupos Teatro de Los Andes, da Bolívia, e Clowns de Shakespeare, do Brasil, artistas bolivianos e brasileiros cartografam realidades sociopolíticas locais e latino-americanas para fabular contextos fronteiriços. O espetáculo nasceu do desejo de montar uma obra compartilhada, ideia suscitada no encontro entre eles na Ocupação Mirada, realizada em 2021 com a maior parte das ações nos formatos digitais em razão da pandemia da Covid-19.

Concebido na pandemia, “Erupção – O levante ainda não terminou”, é o segundo trabalho da coletivA ocupação. O grupo brasileiro leva para o palco uma cena de festa e guerra, de feitiçaria e subversão, através de uma dramaturgia coletiva que propõe um trânsito de cada corpo-memória dos performers para atravessar o tempo em busca de convocar forças, lutas e vidas ligadas às suas ancestralidades.

Dança
A sexta edição do Mirada também inclui apresentações de dança. É o caso da portuguesa “Ensaio para uma Cartografia”, de Mónica Calle, e da coprodução entre Brasil e Argentina, “c h ãO”, criação de Marcela Levi e Lucía Russo.

Na primeira, a partir dos ensaios de orquestra de maestros renomados e dos movimentos do balé clássico, um grupo de atrizes dança. Já na segunda, seis performers, um deles ao piano, cruzam um emaranhado de ações como se seus corpos fossem sismógrafos.

Crianças e adultos são convidados a vivenciar uma experiência lúdico-artística com pitadas existenciais em “A Caminhada dos Elefantes”, da companhia portuguesa Formiga Atômica. O solo encenado e atuado por Miguel Fragata, com texto de Inês Barahona, narra uma história sobre a infinitude inscrita no livro da vida de cada ser humano.

Também da Península Ibérica, “…i les idees volen” (“…e as ideias voam”), do coletivo catalão Animal Religion, reconfigura o picadeiro. Delimitada no chão por uma fita luminosa, a arena é habitada por Quim Girón, que utiliza a interpretação e o movimento como recursos para interagir com a plateia.

O espaço público também vira palco e recebe os espetáculos de rua “anonimATO”, da Cia. Mungunzá de Teatro, de São Paulo, e “Mar de Fitas Nau de Ilusão”, do Grupo Imbuaça, de Sergipe.

Interação com o público
Além de espetáculos, o MIRADA também reúne uma série de atividades que buscam fomentar o pensamento crítico e autocrítico, algo que sempre esteve nos caminhos do festival em suas edições. São rodas de conversa, oficinas, performances, lançamentos de livros e outras variantes de encontros abertos.

Há, também, na área de convivência do Sesc Santos, a instalação “TheA²trumcoRpusmUnDi”, que contém em seu título o anagrama de Antonin Artaud (ator, escritor e encenador francês). Concebida por Ricardo Muniz Fernandes, Christine Greiner, Ana Kiffer, Isabel Teixeira, Paulo Henrique Pompermeier e Andrea Caruso Saturnino, a experiência incentiva cada sujeito a pensar ou repensar sua ação no mundo.
A área de convivência do Sesc Santos também se transforma em espaço extensivo de fruição artística para o público nas noites do festival. Após as sessões dos espetáculos acontecem intervenções artísticas, discotecagens e shows pensados para celebrar a diversidade e convidar à troca de ideias.

Um festival que amplia fronteiras
Emerson Pirola, da curadoria do Mirada, dá detalhes da programação do festival, que terá a participação de artistas da região e ampla programação interativa com o público:

A programação completa do MIRADA pode ser acessada em www.sescsp.org.br/mirada e nas redes sociais do Sesc Santos e do Sesc São Paulo. Os ingressos estão disponíveis no site, no aplicativo Credencial Sesc SP, na Central de Relacionamento Digital e nas bilheterias das unidades. No Sesc Santos, a compra pode ser feita de terça a sexta, das 9h às 21h30, e aos sábados, domingos e feriados, das 10h às 18h30. As entradas variam de R$ 7,50 (credencial plena) a R$ 30 (inteira).