O que é uma meia verdade? Digamos que 2 pessoas são vizinhas e uma delas tem 2 Kg de carne na geladeira e a outra não tem nada. Na média, cada uma delas tem 1 kg de carne para comer. Essa é a verdade da matemática, da estatística. Mas e na realidade da vida dos dois? Um come enquanto o outro passa fome. Expor fatos destacados da situação real, mesmo que com números verdadeiros cria esse tipo de armadilha para quem recebe dados e informações pela metade.
Assisti a um vídeo do economista Ricardo Amorim na internet elogiando o novo governo argentino, de Javier Millei. Números positivos que mostram superávit na conta corrente do novo governo, algo a ser comemorado em um país onde a economia virou um pandemônio há décadas. E Ricardo faz elogios às medidas de corte de gastos daquele país, defendendo credos econômicos. O problema é a perversa realidade por trás dos números. Millei não cortou privilégios do Congresso ou do Judiciário argentinos. Não renegociou os juros correntes da dívida interna ou externa. Millei simplesmente cortou gastos sociais, reduziu o orçamento da saúde e da educação, congelou salários mas não os preços. Bater palmas para o primeiro superávit em conta corrente (não confundir com superávit fiscal) sem mostrar o custo social disso chega a ser se direcionar para a mentira pura e simples. No mesmo período de medição do superávit, o número de argentinos abaixo da linha da pobreza aumentou e o desemprego não diminuiu.
Contar as coisas pela metade é bem próximo de mentir. Cria a ilusão nas pessoas que lêem ou ouvem de que algo que dá certo lá, dá certo aqui. A necessidade de cortar gastos é urgente, ninguém nega, mas a impossibilidade de fazer isso vem só dá vontade de gastar do Executivo ou da determinação de não deixar isso acontecer por parte do Legislativo e do Judiciário? Onde nossos olhos devem vigiar e criticar? Essa é à verdadeira pergunta que leva a verdadeira resposta.
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