Significados do Judaísmo

Holocausto – Relembrar para não repetir

31/01/2022
Holocausto – Relembrar para não repetir | Jornal da Orla

O Holocausto representou talvez o maior fracasso que a Humanidade já conheceu.

O Dia em Memória do Holocausto, o dia 27 de Janeiro em todos os anos, é um momento em que procuramos aprender as lições do passado e reconhecer que o genocídio não ocorre apenas por conta própria – é um processo constante que pode recomeçar (como tem acontecido em certas regiões) se a discriminação, o racismo e o ódio não forem controlados e evitados. Afinal, a discriminação não acabou, nem o uso da linguagem do ódio ou da exclusão.

O Holocausto representou talvez o maior fracasso que a humanidade já conheceu. Exibiu a combinação de brilhantismo técnico e eficiência burocrática, mas dedicado ao mais perverso de todos os propósitos. Este foi realmente o maior ponto baixo do ser humano.

No século 19, pessoas educadas, fossem Hegel na filosofia ou Darwin na biologia, ou antropólogos, estavam todas convencidas de que a humanidade evoluía, que a humanidade subia uma escada de excelência e civilização. Eles acreditavam no mais novo, no melhor, que tudo que era velho era primitivo, e isso foi um ato fatal de arrogância por parte dos homens. Eles achavam que sabiam melhor do que todas as gerações anteriores e não perceberam que estavam carregando consigo os velhos demônios do medo e ressentimento, ódio e desejo de vingança.

Quando os seres humanos pensam que são mais que humanos, acabam sendo menos que humanos.

Isso é o que acontece se você acha que sabe melhor do que todas as gerações anteriores; você afunda nas maiores profundezas.

Como diz Rabbi Jonathan Sacks: “Depois do Holocausto, sinto que devo acreditar em Deus porque simplesmente não consigo acreditar na humanidade.”

O Holocausto não ocorreu em algum século medieval. O Holocausto não aconteceu em algum país mais carente do Terceiro Mundo. Aconteceu no coração da Europa. Aconteceu na Alemanha de Goethe, Bach e Beethoven. Aconteceu no país que se considerava o mais civilizado do mundo. No século que foi considerado o mais enlevado da História.

Aconteceu na Europa esclarecida e emancipada. E não devemos acreditar que foi apenas a Alemanha. Por exemplo, Paris e Viena eram as cidades cosmopolitas mais sofisticadas da Terra e, no entanto, eram líderes mundiais em antissemitismo.

E o Holocausto não foi conduzido nem incitado pelas massas. Mais de 50% das pessoas de nível superior na Alemanha eram membros do partido nazista.

E quando os judeus foram demitidos da noite para o dia, cada um e todos eles de suas profissões – dos tribunais, da lei, da medicina, da vida acadêmica -ninguém protestou.

A verdade é que se essa elite tivesse protestado, esses protestos talvez enfraquecessem a filosofia nazista.

Mas ninguém se indignou quando os judeus foram simplesmente, da noite para o dia, removidos de suas carreiras e declarados, de fato, subumanos.

O Holocausto não foi a única tragédia humana significativa no século 20. Tivemos um assassinato em massa de armênios pela Turquia entre 1917 e 1923.Também, tivemos horríveis assassinatos em massa na Bósnia, em Ruanda, no Camboja, em Darfur.

O que tornou o Holocausto diferente foi porque desenvolveu um tipo diferente de ódio. Não foi um conflito político ou militar. Os judeus não eram uma entidade nacional.

Foi algo extraordinário e sem precedentes sobre pureza de raça, que mal existia antes. Como exemplo, houve atrocidades e assassinatos também de ciganos, homossexuais, deficientes intelectuais e outras minorias.

Os judeus eram uma minoria religiosa, espalhados por praticamente todos os países do mundo, e ninguém jamais tentou eliminar sistematicamente uma parte da população por purificação da raça.

Há dois fenômenos que mostram como esta bestialidade foi única:

Primeiro os nazistas fizeram de tudo para destruir todas as evidências de sua barbárie, procurando eliminar qualquer documentação que atestasse as impensáveis atrocidades e isso não aconteceu em nenhuma das outras desgraças.

Como contraponto à tentativa de eliminar as provas, quando o Supremo Comandante das Forças aliadas, General Dwight D. Eisenhower encontrou as vítimas dos campos de concentração, ficou estupefato pelas cenas inimagináveis de desumanidade e determinou a necessidade fundamental do registro da tragédia, para que a memória se eternizasse.

Ele disse:
“Que se tenha o máximo de documentação – façam filmes – gravem testemunhos – porque, em algum momento ao longo da história, algum idiota vai se erguer e dizer que isto nunca aconteceu.”

Além disso, a enormidade e singularidade da tragédia acabou gerando nomes anteriormente desconhecidos, como ‘genocídio’ e ‘crimes contra a humanidade’. Não havia conceitos ou definições que abrangessem a monstruosidade da selvageria.

E como toda história judaica deve conter um final de esperança, nosso querido rabino Sacks conta:

“No dia 8 de agosto de 2019, uma senhora comemorou um aniversário. O nome dela era Shoshana Ovitz. Ela tinha 104 anos. Era uma sobrevivente de Auschwitz. Ela perguntou à neta mais velha: ‘Por favor, você poderia compilar uma lista dos nomes de todos os meus netos e bisnetos porque quero orar por todos eles no meu aniversário?’

Sem que ela soubesse, a família decidiu que todos se reuniriam e passariam com ela seu aniversário de 104 anos e orariam juntos no Muro das Lamentações em Jerusalém. Eles foram fotografados juntos. Havia 400 deles, filhos, netos e bisnetos dessa senhora. Se alguma vez houve um triunfo da vida sobre a morte, não podemos pensar em um exemplo melhor.”

Mesmo assim, nosso compromisso com nossas vítimas é tornarmo-nos cada vez mais sensíveis à necessidade de educar a sociedade sobre os perigos de estruturas institucionais excludentes e políticas sociais genocidas. “

Todas as escolas em toda a Europa e do mundo devem ensinar seus alunos sobre o Holocausto – e as questões morais e éticas associadas.

Nós, como povo judeu temos ainda a missão de sermos a voz dos túmulos, dos inocentes cremados, dos jogados em valas comuns e dos sobreviventes que se despedem da vida a cada dia.

Nossa voz, lembrança e alerta são a alma de nossa sobrevivência e nossa pátria Israel é nosso porto seguro.

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