Comportamento Cotidiano

Gatilhos que agravam ansiedade da virada de ano

10/12/2021
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Veja como se proteger da “Tensão Pré-Ano Novo”

Angústia, alterações de humor, insônia ou sono em excesso, dores musculares constantes e fadiga são sintomas característicos de uma espécie de “Tensão Pré-Ano Novo”, um conjunto de sensações que se manifestam no final do ano, época em que somos submetidos a inúmeros balanços e avaliações.

E não é achismo: pesquisa realizada pela Internacional Stress Management Association – Brasil (Isma-BR) mostra que o nível de estresse do brasileiro sobe, em média, 75% em dezembro.

Segundo a psicóloga Monica Machado, a pandemia agravou a situação. “Fatores como saúde, luto, problemas socioeconômicos, emocionais, entre diversos outros advindos da pandemia, acentuam a ansiedade já natural da época”, explica. “O ideal é identificar o que pode provocar ou aumentar esta ansiedade, mitigando as reações negativas”, completa Monica, que é pós-graduada em Psicanálise e Saúde Mental pelo Instituto de Ensino e Pesquisa do Hospital Albert Einstein.

GATILHOS QUE POTENCIALIZAM TPA

Álcool

O álcool é um depressor do sistema nervoso central, uma droga psicoativa que altera a percepção da pessoa, pois bloqueia a transmissão de mensagens dos receptores nervosos para o cérebro.  “A pessoa se sente relaxada ao beber porque sua percepção diminui. No entanto, o consumo regular reduz os níveis de serotonina no cérebro, um dos neurotransmissores responsáveis pela sensação de prazer e bem-estar. Sendo assim, o álcool agrava a ansiedade e, principalmente, a depressão. Mesmo fazendo parte das celebrações de fim de ano, o ideal é evitar a bebida alcoólica. Ou, ao menos, não exagerar”, aconselha o psiquiatra Rafael Maksud.

Dieta inadequada

O paladar é um sentido ligado ao prazer. Muitos alimentos ativam o sistema límbico no cérebro, responsável pelas emoções. Ao comer doces, por exemplo, há uma diminuição momentânea da ansiedade. “Esse efeito acaba fazendo com que a pessoa recorra ao doce sempre que sentir essa ansiedade, como uma espécie de fuga do estado emocional. Além disso, o doce é muito palatável, o que torna a inclinação a comê-lo ainda maior”, afirma a psicóloga Flávia Teixeira, especialista em Transtornos Alimentares pela USP.

Há formas de gerenciar a ansiedade com uma alimentação mais saudável. “Conhecer os alimentos que auxiliam no controle da ansiedade é fundamental. Experimentar novos sabores pode motivar o seu paladar a mudar a dieta”, diz Flávia.

Por possuírem grande quantidade de vitamina C, Frutas cítricas atuam na redução do cortisol. “A liberação do cortisol pela glândula adrenal ocorre em resposta aos episódios de estresse, que contribuem para aumentar a ansiedade”, explica a psicóloga.

Já a banana contém grande quantidade de triptofano, um aminoácido essencial para ajudar na liberação da serotonina. A fruta também possui potássio e magnésio, controladores do equilíbrio iônico, necessário às reações orgânicas. “Quando esses elementos estão estáveis, promovem relaxamento e um sono tranquilo, condição ideal para a liberação de mais serotonina”.

Para quem não resiste a um doce, a dica da psicóloga Flávia Teixeira é apostar no chocolate, principalmente o amargo. “Ele possui flavonoides em sua composição, um antioxidante que também favorece a produção de serotonina. Nos níveis ideais, a serotonina aumenta a sensação de leveza e bem-estar, melhora o humor e diminui os efeitos negativos da ansiedade sobre a mente e o corpo”.

Entradas sensoriais

Certas luzes, cheiros ou sons podem afetar negativamente nosso estado de espírito. O ruído, especialmente os sons graves ou altos, podem ativar e aumentar a atividade na amígdala, uma área do cérebro responsável pela resposta de “luta ou fuga”, gerando estresse e irritabilidade.

“Os órgãos dos sentidos são fundamentais para a percepção da realidade, pois são eles os responsáveis por captar as sensações provocadas pelo meio externo e enviá-las ao sistema nervoso central, que registra e processa a informação recebida. Por isso, explorar cada um destes sentidos pode nos ajudar a compreender e lidar melhor com as emoções e os acontecimentos ao nosso redor”, explica o psiquiatra Rafael Maksud.

Ouvir música clássica constantemente, por exemplo, eleva a atividade cerebral que envolve as sensações de prazer e recompensa. Reduzir a dor e a ansiedade, baixar a pressão arterial, combater a insônia, aumentar e despertar emoções, ajudar no desenvolvimento do cérebro das crianças e dos bebês, e atenuar a tensão são alguns dos motivos para ouvir música clássica.

Privação de sono

Dormir mal ou pouco pode causar sonolência excessiva diurna, mau humor, fadiga, falta de atenção, dificuldade para retenção de informações novas e queda de produtividade, entre outros. Portanto, mude sua rotina à noite. Comece a se deitar sempre no mesmo horário, se possível. Evite qualquer tipo de iluminação no quarto.

“Quando não há luz, a retina envia informações para uma região do cérebro, o hipotálamo, que manda uma mensagem até o epitálamo, fazendo com que a glândula pineal libere melatonina, um neuro-hormônio que faz parte do nosso ritmo biológico, promovendo o sono na ausência de luz. Outro exemplo é o barulho. Os ruídos ativam o sistema nervoso central e dificultam o indivíduo a entrar nos estágios iniciais do sono”, explica Claudia Chang, pós-doutora em endocrinologia e metabologia pela USP e membro da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM).

Falta de perspectiva

Para algumas pessoas que já conseguiram atingir um bom nível de autoconhecimento e levam suas vidas apoiadas em seus valores, é mais fácil lidar com as incertezas do destino. Mas para quem não chegou neste nível, acaba seguindo em frente sem muito planejamento e alinhamento com seus objetivos, perdendo grandes oportunidades de atingir suas metas e trazer melhorias em sua vida.

Para esse segundo grupo de pessoas, o importante agora é arregaçar as mangas e correr atrás do prejuízo. “Comece a identificar suas prioridades, aquilo que realmente importa para você. E não me refiro apenas a coisas materiais, mas aos valores que você pretende seguir e que poderão refletir positivamente ou negativamente em sua vida, dependendo das suas escolhas”, pontua a psicóloga Monica Machado.

Medo de mudanças

Muitas pessoas encaram as mudanças como algo ruim, pois se sentem fora da zona de conforto. No entanto, outras aproveitam para inovar. Se você perdeu o emprego, por que não tirar da gaveta aquele projeto dos seus sonhos que estava à espera de uma oportunidade para ser executado? Pode ser um negócio próprio, uma mudança de área ou uma mudança de cidade…

“A vida tem imprevistos o tempo todo, você deve ter um plano B para quando eles surgirem”, argumenta a psicóloga. “Muitas vezes, é preciso ‘abandonar’ a vida que havíamos planejado, pois já não somos mais as mesmas pessoas. Somos seres em eterna mutação, seja internamente ou pela necessidade de seguir a evolução do mundo. Portanto, se você havia feito vários planos, mas depois perdeu a identificação com eles, siga sua intuição e mude a rota. Trace metas que estejam alinhadas com seu ‘eu’ atual, com suas novas perspectivas de vida”.

Segundo a psicóloga, valores têm mais relação com ‘o que você quer ser’ do que com ‘o que você quer ter’. “Essa evolução ajudará a fazer escolhas coerentes e trilhar caminhos mais produtivos, evitando que você perca tempo com aquilo que já não interessa mais”, finaliza Monica Machado.