Crônica

Erros jornalísticos

26/04/2024
Jornal da Orla

Na edição da semana passada, nós, do Jornal da Orla, cometemos um erro coletivo. A manchete principal da primeira página saiu assim: “Avançam as Obras do Porto Valongo”. O correto seria: “Avançam as Obras do Parque Valongo”. Erro leve.

Durante a semana, um erro individual meu não chegou a se tornar público. Induzido por uma crítica na TV à deputada Rosana Valle por um suposto voto contra a manutenção da prisão do deputado Chiquinho Brazão, pedi à assessoria dela um vídeo com uma justificativa desse posicionamento. Na resposta, fiquei sabendo que a deputada votou pela manutenção da prisão do acusado pela Polícia Federal de ser mandante do assassinato da vereadora Marielle Franco.

Esse erro, já mais grave, se torna minúsculo, insignificante, diante de um outro do Cidade Alerta, da Record, e do apresentador Luiz Bacci. Eles foram condenados, neste mês, por apresentar, em 2019, imagens de uma mulher abastecendo o carro em São Paulo como acusação de preparação para ajuda na fuga do assassino do ator Rafael Miguel. Ela não tinha nenhuma relação com o caso. Nem conhecia as pessoas. Mas ficou conhecida como “piloto de fuga de criminosos”. A Record, condenada a pagar uma indenização de R$ 40 mil, recorre com o argumento de que “não houve intenção de prejudicar a imagem dela”. O desembargador responde que a emissora expôs a imagem da mulher sem se preocupar com as consequências”.

O erro é grosseiro, lesivo. Não houve uma checagem básica. A Record deveria ter vergonha de apresentar recurso. No lugar disso, deveria se oferecer para pagar uma indenização duas, três vezes maior do que essa, mesquinha, determinada pela Justiça.

Alguns erros jornalísticos se disseminam, montam uma visão pública totalmente equivocada de algumas questões e prejudicam o conceito de pessoas e instituições.

Você, leitora / leitor, certamente lembra do Supremo julgando a “descriminalização da maconha”. Isso nunca aconteceu. A posse, o porte e o tráfico de drogas são crimes tipificados em lei. Importante: todos são crimes. Só que a punição varia. Prisão para o tráfico e multas e trabalhos comunitários para porte e posse. E a lei não especifica a quantidade que separa um enquadramento do outro. É essa regulamentação que começou a ser discutida no STF, não essa suposta “descriminalização”.

Você também leu que a Câmara de São Paulo aprovou a privatização da Sabesp. Absurdo. A Sabesp não é uma empresa municipal. É uma sociedade de capital aberto com controle acionário do governo estadual. O que a Câmara de SP votou é a autorização da continuidade do contrato da cidade com a empresa se ela mudar de dono. O governo estadual também não está “privatizando” a Sabesp. Está vendendo, numa decisão muito questionável, o controle acionário de uma empresa que dá lucro.

De erro em erro, algumas visões distorcidas que flertam com o non sense vão sendo construídas. Uma delas é a da “censura” do Supremo. Como assim? O Pastor Malafaia, o bilionário Elon Musk e o deputado Eduardo Bolsonaro desqualificam o STF com tudo quanto é tipo de acusação e xingamento, têm as declarações reproduzidas em tudo quanto é TV, rádio, jornal, revista e rede social e depois reclamam de censura? É divertido ou dá pra levar a sério?