
Os cenários profissionais brasileiro e mundial têm passado por transformações significativas. Deixando de lado os estereótipos de gênero, que por muito tempo moldaram o mercado de trabalho, cada vez mais mulheres estão enfrentando e mostrando a mesma competência em áreas tradicionalmente dominadas por homens. Essa mudança reflete uma busca por igualdade de oportunidades, com histórias inspiradoras de coragem e determinação. Muitas mulheres decidiram enfrentar preconceitos ou normas antiquadas – para se destacar em profissões que, há pouco tempo, pareciam distantes de suas realidades – em jornadas de empoderamento e transformação.
Jussara Andrade, sócia da Miramar Autopeças, na Vila Matias, enfrentou alguns problemas no início. Filha mais velha, assumiu os negócios, após uma enfermidade do pai. “Eu e meus irmãos tivemos que assumir porque era nosso meio de subsistência. Não tive problemas com fornecedores, mas tive problemas com funcionários e alguns clientes. Um dos funcionários chegou a me dizer: ‘eu não obedeço nem a minha mãe, não vou te obedecer’. Era esse o nível”, enfatiza.
Ela acrescenta que alguns clientes julgaram sua capacidade de gerenciar a loja, dizendo que ela “só tinha o negócio porque era do pai”. “Já estivemos em outro endereço, com outro nome; e estamos há 35 anos no ramo. Ou seja, se não fosse força e competência, não teríamos seguido. Há tantos filhos, que ouvimos dizer, que não conseguiram manter os negócios herdados; então, acho que é dedicação ao legado de meu pai, que foi um guerreiro”, diz.
A empresária orgulha-se ao dizer que continuam firmes. “Eu acho que as mulheres têm uma visão mais atenta.
Inclusive, seria ótimo se houvesse mais mulheres atuando como mecânicas. Aqui, eu cuido da parte administrativa, as vendas e atendimento ficam com meu irmão. Hoje em dia, criamos vínculos fortes com outras empresas e clientes. Tem gente que vem de longe, porque gosta do nosso atendimento mais pessoal”, comenta Jussara Andrade.
LUTA DIÁRIA
Numa sociedade em mudança, mas ainda com predominância do entendimento masculino da polícia, ser mulher é um desafio constante que vai além de simplesmente empunhar uma arma. A cada dia, além do perigo nas ruas, elas enfrentam estigmas e a necessidade de provar capacidade de atuação.
É assim que, há 25 anos, a investigadora, Yara Aparecida Bezerra Silva, tem quebrado barreiras, com coragem e sensibilidade, indo além da força física, na luta diária pela igualdade de condições. Já passou por várias delegacias e atua na Delegacia-Sede de São Vicente. Dentro da corporação o respeito é completo, mas a população ainda tem suas reservas quando uma ocorrência é atendida por uma mulher.
“Na minha opinião, a sociedade acha a policial feminina um pouco truculenta, já associam a nossa imagem a isso. Mas não é bem assim. Nós precisamos impor um comportamento. Somos mais diretas. Agora, sobre o preconceito, a gente sabe que existe, a gente sabe das piadinhas: ‘ah, porque é mulher, não vai conseguir fazer’, mas eu nunca dei bola. Eu provo com o meu trabalho”, enfatiza.
Yara diz que a cada dia há mais mulheres na polícia. “São as famosas ‘Fem’, como dizemos por aqui. Mas, ainda é uma profissão um pouco machista. Nós estamos conquistando nosso espaço. As portas estão se abrindo em todas as áreas: seja escrivã, investigadora ou delegada”, analisa.
ACERTANDO A DIREÇÃO
Por incrível que pareça, ainda existe quem diga a terrível frase: “Mulher no volante, perigo constante”. São tolices assim, que estão sendo vencidas aos poucos. No Japão, por exemplo, as motoristas mulheres são mais valorizadas pela gentileza e atenção. No Brasil, essa barreira ainda é alta. Elizandra Regina Cândido Teixeira, 50 anos, trabalha com aplicativos de carro para transporte de passageiros, somente para mulheres, desde 2019. Ela conta que a ideia de encarar a direção profissionalmente surgiu na pandemia, porém, seu carro era muito antigo e a plataforma não a aceitou. “Com isso, eu tive a ideia de fazer uma postagem divulgando meus serviços somente para mulheres”. Ela se tornou, desde então, uma motorista exclusiva para este gênero. “Eu levava senhoras ao médico, buscava no supermercado, fazia corridas até as baladas. Até que meu trabalho ganhou proporção, o aplicativo me mandou um e-mail e me aceitou na plataforma”, conta. “Se existe o ‘marido de aluguel’, eu me considero uma ‘amiga de aluguel’ com carro”.
Mesmo sabendo que há por parte de muitos motoristas uma visão deturpada sobre a direção feminina, Regina conta que não tem receio do trabalho com o público. Não tenho medo, pois trabalho somente para mulheres e me sinto segura”. Já no trânsito, ela conta que há alguns olhares enviesados, mas que não liga: segue em frente. “Se eu pudesse, abriria uma frota, compraria outros carros e colocaria outras mulheres para trabalharem comigo. Ainda não vejo muitas mulheres no mercado”, finaliza.
Deixe um comentário