Saúde

Drogas no trabalho

30/05/2014Da Redação
Drogas no trabalho | Jornal da Orla
É mito pensar que o dependente químico não está presente no mercado de trabalho. Segundo levantamento efetuado nos Estados Unidos, 3/4 dos americanos com histórico de abuso de álcool e drogas estavam empregados e no Brasil a situação não é diferente. A informação da especialista em dependência química Carla Montalto, do Instituto Sapiens Vita, serve de alerta para as empresas apostarem na prevenção e, se for o caso, recuperação do funcionário. Carla fez palestra sobre o tema durante a 14ª Semana Municipal sobre Drogas, realizada pela Prefeitura de Santos.
Segundo ela, se a doença ainda não evoluiu para a incapacidade total, a pessoa continua exercendo suas funções com os prejuízos inevitáveis que isso representa. Carla explica que normalmente os vínculos profissionais são interrompidos pela quebra da produtividade, por problemas de disciplina e de baixo rendimento. “O dependente tem dificuldade de se manter no emprego e ter qualidade na sua vida profissional, pois não existe consumo de drogas sem mudanças físicas e comportamentais”.
A dependência de álcool e de drogas ilícitas está entre as 10 maiores incapacidades no mundo do trabalho. No Brasil, 12,6 das mortes estão associadas ao uso dessas substâncias e o país perde hoje R$ 19 bilhões em absenteísmo. Dados da Organização Mundial de Saúde (OMS) mostram que a dependência química é a doença que mais mata no mundo, precedida apenas pelo câncer e doenças cardíacas.
“É muito mais vantajoso recuperar do que simplesmente demitir. Prevenir custa 7 vezes menos do que tratar um funcionário e tratar custa 4 vezes menos do que repor esse funcionário. Os custos de demissão, encargos sociais, recrutamento, seleção e treinamento são maiores que os custos dos programas de saúde”, diz. O Instituto Sapiens Vita desenvolve políticas corporativas de prevenção ao uso indevido de drogas nas relações de trabalho.
Vício democrático- A pesquisadora lembra que o uso de drogas sempre existiu no mundo, mas se intensificou a partir dos anos 60 e tornou-se um grave problema de saúde pública com o surgimento da Aids, na década de 80, e a preocupação com o compartilhamento de seringas. Carla comenta que a dependência química é uma doença absolutamente democrática, pois afeta indivíduos de diferentes idades, condição cultural e socioeconômica. “É um fenômeno complexo, com causas biológicas (pré-disposição, principalmente se tiver ascendente), psicológicas (pessoas com perfis muito depressivos, mais frágeis) e contexto sociocultural (há sociedades que empurram e outras que refreiam o uso). Além disso, há a resistência do dependente ao tratamento”.
Programas de prevenção
O ideal é trabalhar na prevenção e não esperar que a pessoa adoeça para ser acolhida. Devido à natureza progressiva da dependência química, torna-se muito difícil detectar um dependente ou usuário de droga na fase de admissão de pessoal, por mais criterioso que seja o processo de recrutamento e seleção. À exceção é o crack, que dificilmente passa despercebido. Coca uso social há muito tempo.
Carla propõe o envolvimento do setor de recursos humanos para implementar programas preventivos, porque é no local de trabalho que os indivíduos passam boa parte do tempo útil. A questão se torna mais delicada quando o uso de drogas é feito por profissionais que ocupam função de risco operacional.
“Se tiver um programa de prevenção, mesmo quem faz uso leve e recreativo de drogas psicoativas vai pensar duas vezes, até por medo do teste laborial. A empresa tem que ter a prerrogativa de saber se a pessoa está ou não sob efeito de drogas e oferecer tratamento Para o trabalhador que já está no uso nocivo, na síndrome de dependência, será a oportunidade de se tratar”.
Em relação às incidências do uso de substâncias, a especialista ressaltou a atenção voltada principalmente para álcool, que embora seja lícita é a que mais causa acidentes; ao tabaco, por causar doenças evitáveis; e à maconha, associada a perdas cognitivas e falha de memória.
Álcool e outras drogas
Pela incidência, o álcool causa mais danos, porque ele é mais frequente na população e seu consumo pesado vem crescendo muito entre as mulheres. O alcoolismo é reconhecido como doença pela OMS e consta do CID (Código Internacional de Doenças).
Embora a CLT, no artigo 482, disponha que a embriaguez habitual ou a embriaguez em serviço possibilitem a rescisão do contrato de trabalho por justa causa, há várias decisões judiciais reconsiderando a questão e até determinando a reintegração dos funcionários. Sendo uma doença crônica e reincidivante, o indicado é que a empresa identifique e encaminhe o funcionário para tratamento especializado.
“Temos tolerância que as pessoas se embebedam de vez em quando como se fosse padrão de conduta. O uso abusivo pode levar à demência alcoólica irreversível, já que o álcool é neurotóxico e mata as células do cérebro. Quando o dano não é permanente, o cérebro por ser elástico se recupera. É uma doença tratável, mas o tratamento se faz na abstinência para dar chance ao cérebro de se recuperar”, explica Carla. .
Quanto ao crack, cujo uso vem em uma curva ascendente no país, de cada 2 a 3 pessoas que experimentam, uma vai ficar dependente. “O fato de ser fumado faz com que a dependência se desenvolva muito rápido”, diz a especialista. De acordo com estudo da Fiocruz, no Brasil há 370 mil usuários de crack, 50 mil deles com menos de 18 anos.
Prejuízos pessoais e profissionais
 Três vezes mais a utilização de assistência médica e social das empresas
 Lentidão
 Não realização de tarefas
  Cinco vezes mais acidentes de trabalho;
 Oito vezes mais utilização de diárias hospitalares
 Redução da capacidade de trabalho, raciocínio, concentração e alteração comportamental, principalmente em relação à responsabilidade e à postura.
 Alteração do humor, mentiras, despreocupação com a aparência e higiene pessoal.