Começar de novo, no dicionário, significa “colocar um elemento novo, quebrar o ciclo de repetição, pensar diferente, mudar de comportamento ou qualquer movimento que impulsione para algo novo”.
Já recomeçar significa retomar uma atividade depois de uma interrupção,
Se deu errado, melhor começar de novo. Se estava bom e “por que parou, parou por quê?”, melhor recomeçar.
O problema é que tanto um jeito como o outro exigem resiliência. Resiliência, na Física, representa a capacidade de um corpo de retomar o formato original depois de um choque elástico. O corpo resiliente absorve a energia do choque sem quebrar.
Nos choques emocionais, é mais complexo reagir com resiliência. O sentimento é de que um fio se rompe dentro da gente e as duas pontas se distanciam. Não tem como reaproximar, dar um nó e retomar o estado anterior.
O conceito de resiliência foi trazido da Física para o comportamento por um psiquiatra austríaco, Viktor Frankl. Preso num campo de concentração, ele percebeu que algumas pessoas se deixavam morrer e outras conseguiam reagir.
O passo seguinte, ele traduziu em duas frases:
- “Quem tem um ‘porquê’, enfrenta qualquer ‘como’.”
- “Quando não conseguimos mais mudar uma situação, temos o desafio de mudar a nós mesmos.”
Para a criatividade das pessoas resilientes, o céu é o limite, No filme a Vida é Bela, de 97, dirigido e protagonizado pelo italiano Roberto Begnini, o personagem Guido Orefice, judeu, vai preso também para um campo de concentração junto com o filho pequeno, Giosué. Para evitar que o filho sofra com o horror da situação, ele finge, com inteligência e bom-humor que é tudo um jogo, uma grande brincadeira.
Na música brasileira, o genial Raul Seixas tratou do tema do recomeço e da resiliência:
“Tente e não diga que a vitória está perdida / Se é de batalhas que se vive a vida / Tente outra vez
Resiliência pura, em estádio bruto. Não explicita se é para “começar de novo” ou “recomeçar”
Gonzaguinha quer um “recomeço”:
“Começaria tudo outra vez / Se preciso fosse, meu amor / A chama em meu peito ainda queima / Nada foi em vão”
Já Ivan Lins é claro:
“Começar de novo e contar comigo / Vai valer a pena ter amanhecido / ter me machucado. Ter sobrevivido”.
Tente Outra Vez fala da vida. Começar de Novo e Começaria Tudo Outra Vez falam de reações depois de rupturas amorosas.
Ivan Lins quer a ruptura:” Vai valer a pena já ter te esquecido”.
Gonzaguinha quer o reatamento:
“E a alegria de poder / Olhar prá trás / E ver que voltaria com você / De novo, viver / Nesse imenso salão
Essa conversa foi para a música brasileira, porque começando de novo ou recomeçando a cada vez, o importante é não deixar de tentar, não se deixar derrotar, não aceitar a morte no campo de concentração, não deixar de acreditar no amor na separação, não desistir quando recebe a visita do fracasso.
Na quinta-feira, no Teatro do Sesc, em Santos, na abertura da ª edição do Santos Jazz Festival, a cantora Alaíde Costa traduziu tudo isso na prática com uma declaração simples:
“Eu tenho 88 anos, 70 de carreira. E o reconhecimento só veio agora”.
Só restava aplaudir. E público, teatro lotado, aplaudiu de pé.
