Saúde

Com pandemia, transplantes de rins caem pela metade

04/03/2022
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Especialista esclarece que, mesmo quem contraiu a Covid-19 mas não tem infecção ativa, pode doar

Em setembro de 2021, dos 53.218 brasileiros aguardando por um transplante de órgão ou tecido, mais de 30 mil estavam na lista esperando por um rim. São portadores da Doença Renal Crônica (DRC), caracterizada pela lesão irreversível, que prejudica a qualidade de vida do paciente e pode levar à morte. Se diagnosticada precocemente, a DRC pode ser controlada, mas em estágios avançados pode exigir um transplante renal.

A pandemia piorou uma situação que já era ruim: o número de doações caiu quase pela metade, de 6.296 em 2019, para 3.304 em 2021.
“A pandemia influenciou não só pelo menor número de pessoas dispostas a fazer a doação, como também porque os transplantes são vetados quando o doador está contaminado pelo Coronavírus”, explica a nefrologista Carolina Maria Pozzi. No entanto, ela esclarece que, mesmo quem contraiu a Covid-19 mas não tem infecção ativa, pode ser uma potencial doador.

No dia 10 de março é celebrado o Dia Mundial do Rim, data dedicada a conscientizar e orientar a população sobre o tema.

Compatibilidade
A bióloga Cristina von Glehn, que é mestre em Genética e doutora em Imunologia, explica que, ao se tornar candidato a um transplante renal, paciente é inscrito no Sistema Nacional de Transplantes e precisa fazer exames, sendo os principais: o de tipo sanguíneo, o de tipagem HLA  (Human Leucocyte Antigen) e Painel de reatividade de Anticorpos, que permitem entender como o sistema imunológico do paciente responde a organismos estranhos, neste caso, a um órgão novo. “Quando entra um doador no sistema, ele também é tipificado. Assim, selecionam-se os candidatos mais compatíveis com o doador”.

Segundo ela, quando fora da família, raramente a compatibilidade entre doador e receptor é total. Daí vem a importância do teste: ele permite aos médicos fazer uma análise preditiva das chances de haver uma reação hiperaguda (rejeição imediata), acelerada (rejeição na primeira semana) ou crônica (rejeição que ocorre aos poucos). “Com essa informação, o médico vai avaliar se faz ou não o transplante. Se aceitar, vai precisar ter uma estratégia de imunossupressão para controlar a presença de anticorpos, mas ele também pode avaliar o risco e decidir que o paciente deve esperar outro órgão. Ou seja, o exame permite que se tenha o melhor órgão com a menor possibilidade de rejeição dos pacientes”.

Com a evolução das tecnologias na detecção de anticorpos, todos os exames necessários para transplante podem ser feitos em laboratórios, a partir da amostra de sangue. Para isso, são utilizados reagentes e equipamentos específicos para pré e pós-transplante e a Biometrix Diagnóstica é uma referência na área. “Ela tem muita qualidade e é uma grande parceira para o nosso laboratório. Oferecem reagentes que nos colocam no mesmo nível de laboratórios dos Estados Unidos e da Europa”, avalia Cristina.

Autorização familiar
Qualquer pessoa pode ser doadora de órgãos. Para isso, basta ser maior de 18 anos, ter condições de saúde adequadas e passar por avaliação médica. É fundamental que a pessoa que deseja ser doadora de órgãos converse com sua família sobre a decisão, mesmo que tenha a informação registrada em documento oficial. Além da doação em vida, é possível doar os órgãos após a morte encefálica, quando há interrupção irreversível das funções cerebrais.

Neste caso, é preciso que a família autorize o procedimento. Segundo o Ministério da Saúde, em 2021 foram registradas 5.857 mortes encefálicas no país, mas apenas 1.451 delas resultaram em doação de órgãos. Em mais de um terço dos casos (37,8%), houve recusa por parte das famílias. Se houver conscientização prévia e diálogo aberto entre o doador e seus familiares, há mais chances de que a doação de órgãos seja autorizada após o falecimento.