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Bambino a Roma

21/08/2024
Bambino a Roma | Jornal da Orla

As pequenas memórias de Chico Buarque

Sérgio Buarque de Hollanda – autor do eterno clássico Raízes do Brasil – foi convidado para ministrar aulas na Universidade de Roma. Seu pequeno filho, Chico, encanta-se ao saber que irá morar num castelo italiano, mas se desaponta ao se deparar com um prédio sombrio e gelado e descobrir, enfim, que palazzio em italiano significa apenas “prédio antigo”. E conclui: “no estrangeiro é tudo estranho”.

Chico Buarque revive, neste seu novíssimo Bambino a Roma, as memórias do garoto que foi entre 1953-55 em Roma. Estripulias infantis se misturam a eventos improváveis, formando uma vivência quase encantada: o futebol com os amiguinhos, as expedições com a bicicleta niquelada, uma valsa com a atriz Alida Valli, o encontro com o Papa, as sessões no Cine Rex, a música e a literatura também já se insinuando na vida do garoto.

Chico, no alto dos seus produtivos 80 anos, lança um olhar para esse espaço do passado e o resgata nesta sua pequena autobiografia com toques ficcionais que preenchem as vacuidades da memória. Vida longa a este brasileiro de primeira grandeza.

Motivos para ler:

1- Chico Buarque, nascido no Rio (1944), muda-se para São Paulo em 1946, onde seu pai passa a atuar como diretor do Museu do Ipiranga. A família se muda novamente em 1953 para Roma, onde moram por dois anos – período retratado neste seu novo livro;

2- Bambino a Roma (2024) é o oitavo livro de uma laboriosa carreira composta de excelentes romances: Estorvo (1991), Benjamim (1995), Budapeste (2003), Leite Derramado (2009), O Irmão Alemão (2014), Essa Gente (2019) e Anos de Chumbo e Outros Contos (2021). Temos um novo Chico nas livrarias, e isso é sempre motivo de comemoração;

3- O livro é dedicado a Miss Tuttle, professora italiana de literatura do jovem Chico. Em um bilhete de despedida, a professora profetiza: “Quando o tempo passar e você estiver crescido, vou procurar contos e romances escritos por F. B. de Hollanda”. E foram oito livros e vários prêmios literários; dentre eles, o mais importante da língua lusófona: o Prêmio Camões. A vida é mesmo engraçada.

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