Economia

Baixada avança na inclusão de pessoas autistas no Mercado de Trabalho

19/04/2025 Mariana Nerome
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A inclusão de pessoas autistas no mercado de trabalho, há algum tempo, é uma pauta importante em diversas esferas sociais e econômicas. O autismo, entendido como um espectro de condições que afetam a comunicação e a interação social, não impede que os indivíduos possuam capacidades – em muitos casos até extraordinárias e com habilidades acima da média. E a adaptação do ambiente profissional pode ser a chave para liberar todo o seu potencial.
Apesar das dificuldades históricas de inserção dessa população no mercado de trabalho formal, cada vez mais empresas e instituições têm se mostrado abertas a esse processo de inclusão, reconhecendo as vantagens de um ambiente mais diversificado. Na Baixada Santista, diversas prefeituras vêm adotando políticas públicas para garantir a inserção de pessoas autistas no mercado de trabalho público.
A região tem investido em programas de capacitação e sensibilização, promovendo a adaptação de espaços profissionais e criando parcerias com empresas que buscam cumprir a legislação de cotas e, principalmente, garantir um ambiente inclusivo e acessível.
Com um esforço conjunto entre governo, empresas e sociedade civil, a Baixada Santista se destaca como exemplo de como iniciativas locais podem transformar a realidade de autistas, promovendo maior equidade no acesso ao emprego e incentivando a valorização da diversidade no mercado de trabalho.

DESAFIO E SUPERAÇÃO

Paixão por desenhos, pinturas e aviação, esses são os hobbies da primeira estagiária de pedagogia com autismo atuando na área Educação Especial de Guarujá, a Maria Eduarda Germano, de 20 anos.
A estudante, que trabalha como apoio pedagógico aos alunos autistas do 8º ano da Escola Municipal Professor Benedito Cláudio da Silva, possui o Transtorno do Espectro Autista (TEA) nível um de suporte, que é considerado o mais leve.
Ao trabalhar num ambiente escolar, ela percebeu uma necessidade de conscientização, para que os alunos neuroatípicos possam ter o mesmo desenvolvimento e aprendizagem que os que não possuem autismo.
Para dar suporte a estes jovens, ela adaptou as apostilas de matemática para que o entendimento deles fosse possível. “Fica mais fácil de entender quando usamos a nossa criatividade e estimulamos a imaginação dos alunos”, conta a estagiária.
Maria relata que por ser apaixonada por desenhos, a vida escolar foi mais fácil, apesar do seu diagnóstico não ter sido cedo.
“Eu tinha que me virar para entender o que eu não tinha entendido, e eu morria de vergonha de falar para o professor. Então eu usava a minha arma secreta: a imaginação. Lembro que no 9° ano na aula de história sobre Guerra Fria, Estados Unidos contra União Soviética. Entendi a explicação do professor? Sim, mas não a ponto de ficar na minha cabeça e eu ir bem na prova, então fiz o que eu sabia de melhor: desenhar e criar histórias. Criei uma história em quadrinhos enorme sobre a Guerra Fria, escrevendo tudo do jeitinho que eu tinha entendido. Resultado: consegui entender e fui bem na prova!”, relata a menina.

TEMPORADA DE NAVIOS

O Concais, terminal marítimo de passageiros em Santos, possui uma parceria com a APAE, que implementa programas de inclusão no mercado de trabalho. Durante as temporadas de navios, eles contratam pessoas que possuem algum tipo de deficiência.
Segundo o gerente de operações, Javier Carnavale, nesta temporada tem onze funcionários PCDS, sendo cinco autistas, “nós temos seis na bagagem, quatro no salão e uma moça na limpeza. É emocionante ver como eles se desempenham, como eles melhoram. Eu tenho casos de meninos que chegaram aqui e eram praticamente não falantes, e, hoje dá bom dia para todo mundo. É muito positivo ver como essa inclusão ajuda”.
Para Javier, eles desenvolvem um excelente trabalho e são muito eficientes, “esta troca com eles é muito boa. Eles nos auxiliam muito no dia a dia. Já estamos nos preparando para a próxima temporada, tudo depende da quantidade de navios, a quantidade de escalas, que isso também interfere na quantidade de pessoas que vamos contratar. Mas de qualquer, queremos repetir esse número ou aumentar.”
Ele ainda finaliza que todos os onze funcionários são muito carinhosos, muito respeitosos e pontuais. “Eles fazem com muita paixão. Quando a temporada termina, eles ficam esperando a outra iniciar, contando os meses. É muito legal falar com eles, com os pais, com os familiares, e como eles ficam esperando, sempre trabalham com muita felicidade e dedicação”.