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Às vezes, parar é a única forma de continuar

15/03/2025 Vanessa Martins
Às vezes, parar é a única forma de continuar | Jornal da Orla

Vou contar a história da Joana, mas bem que poderia ser da Maria, do Antônio ou de qualquer um de nós. Nos dias de hoje é bem comum conhecermos alguém que enfrentou ou enfrenta o burnout. Joana sempre foi daquelas que se orgulhavam de nunca dizer “não”. Trabalho extra? Pode deixar comigo. Prazo apertado? Eu dou um jeito. Reunião de última hora? Sem problemas. Você dá conta? Claro! Pode deixar. O que ela não percebia – ou fingia não perceber – era que, enquanto resolvia tudo para os outros, algo dentro dela começava a se desfazer.

No início, era apenas um cansaço insistente. Nada que um café forte e uma noite mal dormida não resolvessem.

Depois, veio a insônia. A cabeça deitava, mas o pensamento continuava correndo, como um trem desgovernado. Com o tempo, o corpo começou a dar sinais mais claros: dores de cabeça constantes, um aperto estranho no peito, uma irritação que parecia brotar do nada e sem nenhuma razão. Pequenos esquecimentos se tornaram comuns – uma chave deixada na porta, um e-mail importante não enviado, um compromisso que sumia da memória como se nunca tivesse existido.

Foi a família quem notou primeiro. “Você anda diferente”, disse a mãe. “Parece sempre distante”, comentou o irmão. “Você está bem?”, perguntou uma amiga. Joana sorria, dizia que era só uma fase, que o trabalho estava puxado, mas que logo passaria. Só que não passava. Seu humor oscilava entre impaciência e apatia. Tarefas simples, que antes fazia no piloto automático, agora pareciam exigir um esforço sobre-humano.

O esgotamento foi se acumulando até que, um dia, no meio de mais uma reunião, as palavras sumiram. Ela tentou falar, mas sua mente parecia um quadro em branco. O coração disparou, as mãos suaram, e, pela primeira vez, ela teve medo. Medo de não dar conta, medo de ter ido longe demais. Foi nesse momento que entendeu o que seu corpo gritava há tempos: ela estava à beira do colapso. O diagnóstico veio com um nome que ela já ouvira antes, mas nunca pensara que pudesse se aplicar a ela: síndrome de burnout. Um esgotamento tão profundo que não se resolvia com um fim de semana de descanso. Ela precisava parar, olhar para si, entender onde havia se perdido no meio das urgências do mundo.

Diante de casos como o de Joana, a psicóloga Alessandra Moreno é direta: “É fundamental estar atento aos sinais do corpo e sobre o impacto disso na vida. Um bom apoio é a família, que pode observar mudanças no comportamento. Procurar ajuda para entender melhor se essas mudanças podem indicar algo a ser cuidado, especificamente na relação com o trabalho.”

Foi difícil aceitar. Mas, com o tempo, Joana aprendeu que pedir ajuda não era sinal de fracasso. Que limites são necessários. Que sua identidade não se resumia à sua produtividade. E que, às vezes, parar é a única forma de continuar.

Hoje, Joana ainda trabalha. Ainda se dedica. Mas aprendeu a dizer “não”. Aprendeu a respeitar seu tempo. E, principalmente, aprendeu que cuidar de si não é egoísmo – é sobrevivência.

Agora, Joana tem uma rotina muito diferente. Ela incorporou momentos de autocuidado ao seu dia-a-dia, como exercícios físicos, meditação e hobbies que lhe trazem alegria. Esses momentos ajudam a equilibrar sua vida e prevenir a volta do burnout.

Joana também se tornou uma voz ativa no ambiente de trabalho, incentivando colegas a reconhecerem seus limites e buscar apoio quando necessário. Ela compartilha sua experiência para ajudar os outros a evitarem o caminho que quase a levou ao colapso. Afinal, parar pode ser a chave para continuar de forma mais saudável
e sustentável.