O que explica a dicotomia entre a temperatura real traduzida pelos números positivos da economia e a sensação térmica de rejeição maciça ao governo nas redes sociais?
Duas notícias desta semana merecem uma atenção especial.
A primeira se refere ao desemprego. A taxa medida pela Pesquisa Nacional por Amostragem de Domicílios Contínua caiu para 6,4% no terceiro trimestre. Trata-se do melhor resultado deste índice do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística desde 2013. O desemprego mais baixo dos últimos 11 anos !!!
A outra vem da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico – OCDE. O Brasil ficou em segundo lugar no ranking mundial dos países que mais receberam investimentos estrangeiros no primeiro semestre. Só os Estados Unidos receberam mais investimentos estrangeiros diretos do que o Brasil.
A conjugação das duas notícias traduz não só um bom momento do mercado de trabalho mas também perspectivas positivas para o futuro próximo.
Essa configuração apresenta um contraste muito forte com a imagem do Lula e do governo dele, com os resultados das eleições municipais e, principalmente, com os conteúdos divulgados nas redes sociais.
A aprovação do Lula caiu muito nos últimos meses, os candidatos apoiados pelo PT deram chabu nas urnas e o governo Lula, de cambulhada com a Janja e com o Supremo, é massacrado todos os dias nas redes sociais:
“Só pensa em aumentar impostos.”
“O rombo das contas públicas…”
“A gastança é incontrolável.”
O que explica essa dicotomia? Essa diferença radical entre a temperatura real traduzida por esses números positivos da economia e a sensação térmica que se desenha na rejeição maciça que se observa nas redes sociais?
É preciso lembrar que o mundo não é mais o mesmo de 1992. Já se passaram mais de 30 anos daquela frase que se tornou famosa: “É a economia, estúpido.”, com que James Carville, estrategista da campanha presidencial de Bill Clinton respondeu sobre o que decidia a aprovação de um governo e a decisão do eleitor.
A economia não reina mais absoluta. Outros campos de interesses invadiram a cabeça das pessoas: questões religiosas e de costumes, por exemplo.
Outra grande mudança está no bombardeio de informações que nós recebemos todos os minutos. Notícias verdadeiras e falsas disputam a nossa atenção o tempo todo com influencers e idioters, com celebridades e subcelebridades, com tragédias, bizarrices, crueldades, com vídeos e até com brincadeiras inteligentes e engraçadas.
É muita coisa.
Você pode não ter dado atenção a essas duas notícias super-importantes da economia mas ter ficado curioso com a atuação do gandula do estádio do Racing na quinta-feira, decisivo no gol que eliminou o Corínthians; ou com a experiência científica que tornou a pele de um camundongo transparente a partir da aplicação do corante do salgadinho Doritos. Percebe?
É muita informação.
Tem ainda um terceiro fator. Muitas pessoas não querem mais prestar atenção em notícias que contrariam a visão que armazenaram e consolidaram: “aquela velha opinião formada sobre tudo…” de que Raul Seixas falava nos anos 70 na música Metamorfose Ambulante. Se os fatos contrariam a teoria, melhor ignorar os fatos. Esquecem que a realidade é dinâmica.
Pra comprovar isso, faça uma experiência. Coloque essas duas notícias da economia num grupo de WhatsApp. Observe as reações e conte pra mim depois pelo e-mail [email protected].
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