Colunas

Apaixonada por descartes, inovadora na moda consciente

22/02/2025 Addriana Cutino
Apaixonada por descartes, inovadora na moda consciente | Jornal da Orla

Como muitos sabem,  eu sou fascinada pela costura criativa e amante da indústria têxtil. Amo tecidos como crianças amam brinquedos. Caminhar pelo Brás, na capital paulista, é como estar em um parque de diversões. Pode acreditar! Mas eu confesso que, há mais de cinco anos, quando conheci a Aline Cassiane Curzi comecei a enxergar meu “playground” cheio de cores, designers e texturas de um jeito que eu nunca havia imaginado.

“Eu comecei autodidata em Arte, Moda e Sustentabilidade. Desde criança eu faço reaproveitamento de materiais, vejo vida no descarte. Acho bonito as coisas jogadas fora e quero transformá-las. Eu já visualizo a mudança que vai acontecer com os materiais descartados. Então, eu sempre fiz bolsas, roupas, brinquedos e objetos de decoração com tudo o que as pessoas chamam de lixo. Meu irmão, que mora da Itália, já vendeu bolsas minhas feitas com roupas usadas.”, explica a santista que, na minha visão, é potencializadora do verbo: TRANSFORMAR.

Aline não foi apenas incomum ao ver o mundo sob outra perspectiva, autodidata no universo da moda, apaixonada por descartes, enxergar beleza nos resíduos quando nem pronunciávamos a palavra sustentabilidade, mas atípica na plenitude da maternidade. Casou aos 20 anos de idade, é mãe de três filhos, um deles autista. E foi o caçula entre os meninos, o responsável pelo mergulho no empreendedorismo.

DISCIPLINA QUE VEM DAS SALAS DE AULA

Aline Curzi se formou em Moda, é pós-graduada em Designer de Moda, cursou especializações em sustentabilidade no Instituto Rio Moda e já participou de grandes festivais de moda sustentável. “Quando eu comecei aqui na região não se falava sobre isso. A gente só falava em reciclagem. Pra mim, é redundante porque não existe moda sem ser sustentável. Eu me formei em 2009 e na faculdade nós já tínhamos aula de tingimento natural”, conta.

O empreendedorismo começou a dar sinais na vida da Aline ao concluir a faculdade. Ela passou a lecionar Desenho de Moda, desenvolveu trabalhos com ONG´s da Baixada Santista – em Cubatão, Santos e São Vicente -, foi coordenadora de estilo e atuou em fábrica, montando coleções. “Sempre ouvi das pessoas que eu tinha que desenvolver a minha própria marca porque sou muito criativa.”, explica.

A maternidade atípica fez Aline recalcular a rota. Pra não ficar totalmente longe do que sabia fazer de melhor, ela conciliou os cuidados com o filho com o trabalho autônomo. A flexibilidade de horário foi fundamental mas trabalhar por conta própria, claro, não é tão simples. Aline tem que gerir seu próprio negócio, cuidar dos encargos tributários, criar, produzir e vender. “Eu digo que foi um ato de coragem. Por isso, fui em busca de capacitação.

Descobri, na época, uma parceria entre o SEBRAE e a Prefeitura de Santos de aceleração do artesanato. Era um programa que profissionalizava pessoas que fazem arte à construírem seus negócios. Eu abri uma MEI, formamos um grupo com trinta artesãs e tivemos aulas o ano inteiro. Foi maravilhoso e me abriu muitas portas”.

LOJA DO FUTURO DO SEBRAE E INSTITUTO C&A

No ano passado, Aline descobriu o lançamento do programa Loja do Futuro do SEBRAE, inspirado nas tendências e tecnologias de edições de feiras internacionais e voltado à melhora na gestão do negócio e na adoção de ferramentas para modernizar as lojas.. Lá foi ela participar do edital nacional com pouquíssimas vagas.

Conclusão: Aline Curzi foi a única marca da Baixada Santista escolhida para estar na Loja do Futuro. “Ela une criatividade e tecnologia. Eram mini-lojas dentro de um estande gigante com muitos painéis eletrônicos e autoatendimento”, conta.

Também, por edital, a sua marca foi uma das vinte escolhidas em todo país para participar de uma capacitação promovida pelo Instituto de Moda C&A, em parceria com a Faculdade Santa Marcelina, de São Paulo. Mais uma vez, Aline foi a única empreendedora da região selecionada para a iniciativa.

MODA REGENERATIVA INÉDITA

A marca da Aline existe há três anos. Ela mesma produz as peças, no apartamento onde mora em São Vicente, com matéria-prima sustentável. São tecidos ecologicamente corretos e que favo- recém a economia reversa. A empreendedora conta que a moda sustentável tem vários segmentos. No caso da marca dela, a maior preocupação é a moda regenerativa.

“Regenerar é extrair menos recursos naturais e humanizar mais. Toda a minha matéria-prima é pra extrair menos água, menos energia, menos gás carbônico e valo rizar as artes manuais. Eu fui a primeira da nossa região a trazer a matéria-prima regenerativa, que são tecidos de origem reciclada de uma tecelagem do sul do país. São tecidos criados de tecidos. A tecelagem recolhe as toneladas de aparas da indústria da moda, separa por cor, desfibra, refibra e forma um fio já colorido. Este processo não extrai nada da natureza.”, explica.

Aline também usa retalhos de bancos de tecido para confeccionar suas peças. São sobras descartadas por alguma indústria. Além de poupar recursos, a empreendedora ganha na exclusividade, já que muitos são usados pra uma única peça. “Meu produto é pra quem se preocupa em respeitar o Meio.” Aline também revende marcas que seguem o mesmo propósito, como jeans sustentáveis.

“Meu sonho é abrir uma loja de multimarcas sustentáveis. Quero criar uma escola de moda para ministrar cursos e oficinas, principalmente para crianças”.  Aline participa de todos os bazares e feiras criativas da região. As peças dela podem ser encontradas também na página @ateliealine-cassianecurzi no Instagram.