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Anos de chumbo e outros contos

22/03/2022
Anos de chumbo e outros contos | Jornal da Orla

O livro mais recente de Chico Buarque, de nosso Chico, o Chico do Brasil

Alguém que faz tudo muito bem. Que transita por diferentes conhecimentos humanos e consegue sempre atingir uma qualidade diferenciada. Assim é Francisco Buarque de Hollanda, nosso Chico Buarque, o Chico do Brasil. Um homem inteligente, lírico e popular, que sempre surpreende com tudo o que produz. Não bastasse sua extensa, consagrada e luminosa carreira musical, Chico atingiu uma grande projeção como escritor, enriquecendo ainda mais o vasto patrimônio literário brasileiro.

Anos de Chumbo é um livro de contos, o primeiro de Chico dentro do estilo breve. Com seu já conhecido amplo domínio da língua, Chico enternece, apavora, desalenta, delira, horroriza e fascina. São oito contos, todos rodeados de fantasmas, que passam pelo divertido, pelo brutal e pela candura, provocando uma vertigem tão colorida de sentimentos e sensações que, ao final, parece que vivemos tudo num só livro.

Este livro é de fácil manuseio, leitura rápida e com o selo de qualidade da família Buarque de Hollanda. Pode ser um excelente companheiro para uma tarde. E conversará com a mente do leitor por muito tempo.

Motivos para ler:

1- Chico é imenso. Além dos vários prêmios Jabuti, recebeu o grau de Comendador da Ordem do Infante D. Henrique de Portugal. A maior distinção literária foi o Prêmio Camões, honraria dada ao escritor mais destacado na língua portuguesa, congregando todos os países que falam o idioma. Jair Bolsonaro, vivendo sua eterna pequenez pirracenta, recusou-se a assinar o diploma do prêmio, dizendo que o assinaria somente ao término do seu segundo mandato. O Ministério da Cultura de Portugal ignorou a malcriação, confirmou a honraria e entregou o diploma Camões diretamente a Chico;

2- Chico viveu intensamente a difícil ditadura militar brasileira. Quando muitos se calaram por medo ou conveniência com o regime autoritário, Chico manteve-se altivo. Adotou o pseudônimo Julinho da Adelaide para driblar a censura e as violentas perseguições. Ao menos duas de suas canções foram emblemáticas para representar esse obscuro, violento, antidemocrático e mal compreendido período da história brasileira: Apesar de você e Cálice. Coisa de gênio;

3- Há pessoas que gostaríamos de ler até a lista de compras. Chico é um patrimônio cultural nacional. Se tiver a oportunidade de ouvi-lo falar, de escutar suas músicas ou ler seus livros, faça. Melhor conselho não há.

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