Saúde

Aleitamento materno proporciona benefícios fisiológicos e emocionais

05/08/2022
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Amamentação fortalece saúde da criança e reduz riscos de depressão pós-parto

O aleitamento materno proporciona benefícios fisiológicos e emocionais para a criança e a mãe mas ainda é preciso difundir mais informações para orientar mulheres e familiares, além de romper com preconceitos que infelizmente muitas pessoas ainda nutrem.

A amamentação garante a nutrição completa de crianças até os seis meses de vida, fortalece o sistema imunológico (reduzindo os riscos de mortalidade infantil) e estimula o desenvolvimento da inteligência.

“O leite materno é perfeito para a saúde do bebê, para ele crescer forte, saudável e inteligente. Ele fortalece a imunidade. Nos primeiros seis meses ele é completo, inclusive em água, não precisa dar água ou chazinho. Até um ano o leite materno continua sendo a principal fonte de nutrientes. A partir de um ano ele é complementado com outras fontes”, destaca a enfermeira Sandra Abreu, especialista em aleitamento materno.

A amamentação favorece o desenvolvimento cerebral do bebê. “Estudos indicam que, a cada ano amamentado, o QI da criança aumenta em 3,4 pontos”, revela.

 

Benefícios físicos da amamentação para a mãe

Sandra explica que, ao amamentar, a mulher recupera a forma física que tinha de antes da gravidez. “Algumas ficam até mais magras, porque é um gasto energético muito grande. Além disso, diminui o índice de câncer de colo, de útero, endométrio e mama, doenças cardiovasculares e osteoporose. Por outro lado, não é fácil, porque é uma doação muito grande e a mulher tem que estar preparada”.

 

Benefícios psicológicos da amamentação para a mãe

A psicológa obstetra Carol Ferraz explica que a amamentação tem um fator protetivo para a depressão pós-parto. “Ela vai se sentir útil, melhora sua auto-estima. Para o bebê, a vida intrauterina é a primeira escola de vida do bebê, ele está registrando em nosso cérebro diversas vivências. E as primeiras percepções psicoafetivas são na vida intrauterina, através da corrente sanguínea que vai pelo cordão umbilical. A saúde mental da mãe está sendo transferida para o bebê. Os primeiros registros psicoafetivos deste bebê vem através da mãe. Por isso que a gente tem o pré-natal psicológico, para fazer esta mulher nutrir psicologicamente este bebê. Quando este bebe nasce, continua pois é como se o peito fosse o cordão umbilical”, esclarece.

 

Mulher deve ser preparada para amamentar

A enfermeira Sandra Abreu alerta que muitas mulheres se preparam para o parto e não para a amamentação. “Não é apenas colocar o bebê no peito e acabou. Não é o caso de amedrontar, mas é preciso desmistificar essa ideia de que a amamentação é aquela coisa plena, bela, cena de novela. Sim, tem inúmeros benefícios, mas não é fácil. É preciso haver uma rede de apoio profissional, com especialistas, e também uma rede de apoio pessoal, o marido, os familiares”, argumenta.

 

Os momentos da amamentação

 

Logo após o nascimento

É a chamada “Golden hour”, o bebê deve ser amamentado assim que nasce. “Este contato pele com pele é fundamental. Não se deve retirar logo o bebê para fazer os exames, a não ser que ele realmente não nasça bem e precise de cuidados especiais. A primeira amamentação é fundamental para o vínculo pai-mãe-bebê. Muitas mulheres engravidam sem desejar, é muito comum. É neste momento, na Golden hour, nesta primeira amamentação, que vai se estabelecer este vínculo”, explica a psicóloga obstetra Carol Ferraz.

 

Três meses

É o período conhecido como “peito livre demanda”, ou seja, o bebê mama à vontade, quando quiser. “Ele precisa deste colo da mãe, desta sucção não-nutritiva, deste vínculo”, diz Carol.

 

A partir de seis meses

Além do leito materno, o bebê deve ser alimentado com sopinhas, primeiro amassada depois em pedaços.

 

A partir de um ano

Além da amamentação, a criança deve comer o que a família come —evidentemente, alimentos saudáveis

 

Hora do desmame

Segundo enfermeira Sandra Abreu, não há um data específica. “A criança é que vai dar os sinais de desmame, vai começar a recusar, vai mamar menos. Aos poucos ela mesma vai deixando.

 

A participação do pai

As profissionais ressaltam que a participação do pai é fundamental tanto no desenvolvimento da criança quanto na atenção à mulher. “O pai é a principal rede de apoio desta mulher. Ele tem que estar presente no pré-natal, no parto e no paupério. O maior fator protetivo de uma depressão pós-parto é o pai. Quando há uma mulher doente no puerpério, certamente o pai da criança não está tão presente. Mesmo que ele tenha que trabalhar, eu o oriento a ligar para ela a cada duas horas, falar pela câmera, incentivar, elogiar, olhar para ela… Porque quando o bebê nasce, tudo mundo se volta para o bebê, a avó, as visitas… mas quem olha para a mãe? Este companheiro deve estar olhando para ela”, afirma Carol Ferraz.

 

O momento do desmame

Segundo ela, não existe um momento exato para o desmame. “A amamentação deve ocorrer até quando a mãe e o bebê desejarem, não existe um prazo limite. Tem estudos que dizem que o certo seria até sete anos, mas o que se recomenda é que ela dure até quando estiver bom para a mãe e o bebê”, explica.

Sandra informa que é preciso evitar ao máximo a substituição da amamentação pela mamadeira. “A concorrência é desleal. Na mamadeira, o fluxo é contínuo, o bebê não precisa fazer muito esforço, a musculatura da boca utiliza é totalmente inadequada. Além disso, a amamentação deixa a mãe muito cansada, porque realmente é exaustivo. Se a mulher deseja amamentar não deve apresentar bicos artificiais. Tanto a mamadeira quanto a chupeta podem levar ao desmame precoce”. Ela acrescenta que em alguns casos o pai, querendo participar, insiste para que o bebê passe a ser alimentado com a mamadeira. “Ele tem boas intenções mas acaba prejudicando. Há outras formas de ele participar”, explica.

 

O desmame como escolha da mulher

A psicóloga Carol Ferraz e a enfermeira Sandra Abreu ressaltam que a mãe também deve ter a liberdade de definir o momento do desmame. “Não podemos julgar ou cobrar. Certamente, ela vai saber o que é o melhor para o bebê. “Quando realmente não é possível amamentar, por questões fisiológicas ou emocionais da mulher, aí sim entra o leite artificial”.

Elas destacam, no entanto, que é preciso fornecer informações para ajudar a mulher a tomar suas decisões. “Mais de 90% das mulheres têm alguma dificuldade de amamentar, por questões fisiológicas ou emocionais. As alterações hormonais são muito intensas, deixa a mulher mais sensível, ela fica acreditando que não vai conseguir. Se ela não tem informações durante a gestação sobre o que vai acontecer no pós-parto, é muito mais fácil de ela desistir de amamentar”, diz Sandra.

 

Depressão pós-parto

A psicóloga obstetra Carol Ferraz explica que a depressão pós-parto ocorre devido a profundas mudanças hormonais na mulher, potencializadas por problemas emocionais que podem ter origem até mesmo na gestação da mãe dela. “No pré-natal psicológico, fazemos uma investigação do começo da vida desta mulher, tudo o que ela viveu na gestação da mãe dela, quando ela estava no útero e recebendo vários registros emocionais. Como foi o parto, a amamentação, os primeiros dias de vida dela, a menarca (primeira menstruação). Tudo isso para ver se essa mulher tem fatores desencadeadores de depressão pós-parto. Por exemplo, se houve casos anteriores de depressão em mulheres da família”, explica.

Outros fatores podem ser decisivos para a ocorrência de depressão pós-parto como a questão financeira da mulher, como é o relacionamento com o pai da criança, em que contexto esta gestação está sendo desenvolvida, a ansiedade pela necessidade de retornar ao trabalho. “Estudos indicam que o puerpério pode ir a até três anos de vida do bebê. A depressão pode ocorrer neste período”, revela.

Segundo ela, o ideal para prevenir é a realização de um pré-natal psicológico.

 

A cultura do desmame

A psicóloga e a enfermeira destacam a pressão social que desestimula a amamentação, desde a falta de incentivos nas empresas para que ela continue a oferecer leite materno após voltar a trabalhar a até mesmo o preconceito do ato em si. “Infelizmente, ainda ocorre muita gente com olhar de julgamento quando uma mulher está amamentando em público. E muitas vezes parte de uma outra mulher.  Não podemos sexualizar este momento. É um momento de vínculo mãe-bebê, entrega, de nutrição, de amor. Se a mulher tiver uma cultura muito religiosa, ela vai ter dificuldade de amamentar em público, por exemplo”, explica Carol Ferraz.

A psicóloga chama a atenção também para as dificuldades que as mulheres encontram no retorno ao trabalho. “O adoecimento psíquico é muito frequente. Não temos a cultura de incentivar a mulher a continuar o aleitamento materno depois que ela e retorna ao trabalho. As licenças-maternidade são de quatro meses, mas o bebê precisa exclusivamente do leite materno, até os seis meses”, salienta.

“Imagina o estresse dessa mulher tendo que voltar ao trabalho, tendo que retirar o leite com uma bomba no trabalho, não tem onde refrigerar, não tem um local adequado para fazer a retirada do leite. Essa mulher não tem o apoio social para manter a amamentação”.

 

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