Já dissemos antes: a literatura é muita coisa. No seu vasto mundo cabe muito mais do que supomos. O leitor certamente já escolheu um título porque se interessou pela proposta preambular do(a) autor(a); entretanto, atravessada a leitura, acabou por contemplar uma profunda e comovente perspectiva que sequer imaginava ali encontrar. Bem por isso alguns livros recebem – e merecem – diversas releituras ao longo do tempo. “Livros que desassossegam”, diria o português José Saramago. A redoma de vidro, livro mais famoso da norte-americana Sylvia Plath, é um espécime desse poderoso gênero, seja pelo enredo, seja pelo sinistro evento que se desenrolou semanas após sua publicação.
O semibiográfico romance – único da jovem poetiza Sylvia, porque infelizmente não houve tempo para mais nada – conta a história de Esther, uma moça interiorana que alcançou um disputado estágio na área da moda em Nova York. A juventude bem-sucedida vivida numa grande metrópole deveria ser sinônimo de entusiasmo e diversão, mas não para Esther – “eu sabia que havia alguma coisa errada comigo naquele verão”, declara a certa altura. A sensação de desencaixe causada pela incompreendida doença mental se aprofunda cada vez mais até atingir níveis alarmantes.
Sim, a literatura é mesmo muita coisa. E penetrar nesse vasto mundo, de espírito aberto e mente atenta, é uma das condições humanas mais bonitas e recompensadoras que podemos experimentar na vida.
Motivos para ler:
1 – Sylvia Plath (1932-1963) se notabilizou pela produção de uma poesia expressiva, forte no desespero e na obsessão pelos sentimentos mais profundos e obscuros. A redoma de vidro foi seu único romance. Semanas após sua publicação, Plath – então com 30 anos – tirou sua própria vida. A obra segue sendo lida e debatida no mundo todo;
2- O livro é narrado em primeira pessoa, de modo que o leitor habitará a mente da jovem Esther e acompanhará o avanço paulatino de sua desorientação. Por meio dos olhos de Esther espiamos o abismo e sentimos a vertigem. É o que a literatura de ponta faz;
3- O não pertencimento experimentado por Esther parece se ancorar em dois grandes eixos: a doença mental e o papel social oprimido da mulher. É possível perceber que suas primeiras crises se insinuam em razão do iminente casamento – pouco desejado – com um estudante de medicina. A partir daí a redoma de vidro – figura de linguagem que representa a depressão – encapsula a personagem. A criadora (Sylvia) não conseguiu da redoma escapar. A criatura (Esther), não se sabe. Que conclua o leitor.
Maravilha…. ótimo texto
A criatividade e a inovação frequentemente surgem do desconforto com a realidade estabelecida, e aqueles que a desafiam, mesmo que em sua loucura, podem nos abrir novas caminhos e perspectivas.
Parabéns pela resenha. Assuntos sempre atuais e pertinentes.
A genialidade muitas vezes caminha lado a lado com a loucura, e a linha que separa um do outro pode ser tênue.
Parabéns pela resenha. Assuntos sempre atuais e pertinentes.
A aceitação da loucura como parte da condição humana pode nos levar a uma compreensão mais profunda de nós mesmos e dos outros.
Parabéns pela resenha. Assuntos sempre atuais e pertinentes.
Prezado Dr. Congratulo novamente vossa senhoria por nos brindar com esta coluna incrível. Deixo aqui as minhas congratulações para todas as mulheres, está resenha me fez refletir sobre a pouca atenção que é dada a depressão. Como destacado no brilhante texto, a mulher caiu neste estado profundo possivelmente por conta de uma malfada promessa de casamento. Vejo que esse tipo de situação se repete em todos os tempos e ainda nos tempos atuais temos outros agravantes específicos para as mulheres, a exemplo do super culto de influenciadores digitais e sua sinistra fábrica de plásticas. Pelo que vi o Brasil é o país que mais receita antidepressivos no mundo, uma lástima que esta sempre iluminadora coluna vem nos alertar, oxalá algo seja feito.
Excelente resenha.
Com certeza trata-se de uma talentosa escritora, já que sabemos que quem é bom morre jovem, em especial aqueles que ceifam a própria vida.
Grato, lerei.
Excelente resenha.
Com certeza trata-se de uma talentosa escritora, já que sabemos que quem é bom morre jovem, em especial aqueles que ceifam a própria vida.
Vou me programar para ler.
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Com certeza trata-se de uma talentosa escritora, já que sabemos que quem é bom morre jovem, em especial aqueles que ceifam a própria vida.
Vou me programar para ler, obrigado
O livro muito embora escrito há mais de 50 anos, nos apresenta uma percepção muito atual ao retratar o tema da depressao e como lidamos com a saúde mental.