
Escritores profissionais – mormente aqueles que chegam aos altos níveis de reconhecimento – possuem uma obsessão em comum: escrever sobre a escrita. Stephen King, Olga Tokarczuk, Annie Ernaux, Umberto Eco, Philip Roth, Murakami, Kundera e tantos outros, em algum momento de suas carreiras, dedicaram títulos ao tema. Nós, leitores, agradecemos: é sempre fascinante vislumbrar como mentes brilhantes funcionam, e se trabalhamos de alguma forma com a escrita, ainda ganhamos o bônus de aprender recursos úteis do ofício.
A espanhola Rosa Montero, imbuída desse propósito, lançou o seu aclamado A louca da casa. Entretanto, há qualquer coisa de diferente neste livro. Além de enunciar seus meios e modos de escrever, Rosa imbrica fatos autobiográficos, reflexões e fantasia. Cheia de boas referências, a autora habilidosamente prova que livros realmente conversam entre si e rememora fatos pouco conhecidos (alguns não muito lisonjeiros…) de grandes escritores. Para além de tudo isso, as impagáveis cenas de sua vida transitam entre o autobiográfico e a ficção, confirmando sua tese de que a memória não é algo muito fiável – antes, é uma construção do vaidoso presente.
Entre arrebatadoras paixões amorosas, o exercício do ofício literário e episódios cômicos de uma vida bem vivida, Rosa nos lembra que a imaginação é fundamental para atingir nosso profundo subjetivo e, assim, acessar o mais valioso núcleo humanístico. E conclui que “na pequena noite da vida humana, a louca da casa acende velas.”
Motivos para ler:
1- Rosa Montero – jornalista, romancista e ensaísta multipremiada – é um dos grandes nomes da literatura espanhola contemporânea. Além deste livro, os seus A ridícula ideia de nunca mais te ver e O perigo de estar lúcida granjearam grande sucesso no Brasil;
2- Apesar de se tratar de uma intelectual gabaritada, a experiência de leitura remete a uma leve, profícua e animada conversa com uma amiga muito inteligente. Extremamente fluido e sem qualquer afetação acadêmica, o estilo desse livro cativa, transformando o tempo de leitura empregado em verdadeiro deleite;
3– Rosa rejeita a ideia de que exista uma “literatura de mulheres”, fundamentando bem sua posição: quando um homem escreve um romance protagonizado por um homem, ele fala do gênero humano universal. Também assim deveria ser quando uma mulher projeta uma protagonista mulher. Essa distorção decorre da constatação de que o mundo foi modulado pela experiência masculina. A cosmovisão feminina é diferente e começa a ganhar cada vez mais voz, não obstante a misoginia ainda vicejar fortemente mundo afora. Para alcançar a desejável aspiração da autora, a potencialização da literatura feminina – exista ou não esse rótulo – desempenha um papel fundamental.
Prezado Dr. Rafael, congratulo vossa senhoria e este prestigioso jornal nesta nova empreitada almejando o ampliamento dos horizontes, certamente o progresso da humanidade caminhará para melhores luzes.
Espero que os comentários sejam públicos, assim poderemos interagir com os excelentes comentadores que aqui frequentam, em especial o nosso querido e entusiasmado Dr. Ivan.
Aproveito para rogar que vossa senhoria um dia publique um escrito na linha da coluna de hoje, será um evento imprescindível para a paz mundial.
Um abraço.
Ha tempos estou de olho nessa autora ! Vou comecar com esse livro indicado!
Todo artista seja escritor, pintor, escultor … vê o mundo para além das aparências. Não se deixa enganar pelo que nos é imposto de cima para baixo. Valoriza e usa a imaginação através da introspecção e, por isso, consegue se conectar com seus “leitores” lhes mostrando não o que é, mas o que pode “vir a ser”…o que “sempre foi”. Daí a importância da literatura, podemos aumentar nossas experiências de vida através da vivência dos personagens criados pelos autores.
Parabéns pela relevância e abordagem do assunto na resenha.
Eduardo Medeiros
Ótimo texto
Maravilha!
Muito bom!!
Que texto maravilhoso! Fico encantada com a maneira como você capturou a essência da escrita de Rosa Montero. Seu comentário é muito perspicaz e cheio de admiração pela obra dela. É inspirador ver como a literatura pode nos transportar para diferentes dimensões, misturando realidade e fantasia. Rosa Montero realmente sabe como mexer com nossa imaginação e nos fazer refletir sobre a vida e a memória de uma maneira única.
Parabéns, excelente texto-resenha
Como sempre, excelente texto e análise!
Excelente texto, lerei a autora.
Gostei do formato de uma conversa com uma amiga, amigos são sempre bom ter por perto quando se precisa.
Grato pela resenha.
Excelente texto, lerei a autora.
Gostei do formato de uma conversa com uma amiga, amigos são sempre bom ter por perto quando se precisa.
Obrigado.
Um bom livro para quem deseja refletir sobre a relação da vida, imaginação e uma boa escrita.