Em Natal (RN), o motorista do buggy pergunta para o passageiro-turista antes do passeio pelas dunas:
“Com ou sem emoção?’.
Nesta semana, fiz uma viagem pelo tempo na celebração dos 120 anos do Colégio Santista. Com emoção. Muita emoção. Olhos úmidos, voz embargada…
O Colégio está encravado na minha vida. Sete anos docemente infinitos. Foram quatro de ginásio (ensino fundamental 2), três de científico (ensino médio) e uma eternidade de quase sessenta anos de puríssima saudade.
Não vou contar aqui histórias que não interessam a você leitora/leitor. Vou contar só que Champagnat, o santo francês que criou a Ordem Marista, tinha uma diretriz muito clara: “A educação é um ato de amor”.
Talvez seja esse amor, impregnado naquelas paredes, que faça o coração de quem estudou lá explodir de saudade diante do prédio, dos colegas, das lembranças. Gerações e gerações de alunos estavam lá representadas.
Seria injusto citar alguns colegas e professores e omitir outros. Então vou usar o critério da presença na celebração para representar todos: o colega Pedro Troncoso, um amigo da vida toda, e o professor de Português Nilo Loss, brilhante, já falecido, representado pela esposa e pelo filho. Não vou resistir ao impulso inicial de citar outro colega, Silvio Capella Vieira de Castro, o Capelinha, talento esportivo superlativo e versátil, e o genial professor de Matemática Saraiva, ambos já brilhando nos céus dos esportistas e dos professores.
Tive a honra de apresentar a celebração como mestre de cerimônia. Aí a viagem no tempo.
Em 1966, aos 14 anos, fui convidado pelo irmão marista Ary Boscardin para falar em nome dos alunos na solenidade de lançamento da pedra fundamental da construção do ginásio esportivo, concluída em 1975.
“Por que eu?”, perguntei ao Irmão Ary. Na minha turma havia alunos mais qualificados. Nos três anos do Colegial, na nossa frente, também. “Por que eu?”. Mistério. Um desses mistérios que a gente carrega pela vida.
Sei que meu pai me ajudou a montar o discurso e essa foi a primeira vez em que eu venci a timidez e falei em público. Lembro da presença de um deputado, ex-prefeito, muito mais velho que eu, que usou a palavra com uma fluidez que me impressionou muito, Antônio Feliciano.
Eis que 58 anos depois estou aqui no Colégio de algumas das lembranças mais doces da minha vida com um microfone na frente. Também tem dois deputados e ex-prefeitos que falam com muita fluidez, Paulo Alexandre Barbosa e João Paulo Papa.
Meu único medo, agora, é chorar e não conseguir conduzir a cerimônia.
Dessa vez quem me convidou para estar ali foi a diretora Liliane Rezende.
“Por que eu?”, Liliane. “Por que eu?”. Tanta gente mais qualificada passou por aquelas salas de aula…
Isso vai constituir um novo mistério. Mas uma coisa fica definitivamente esclarecida:
Os tesouros mais valiosos que a gente pode acumular na vida são os que estão dentro guardados dentro do coração.