Cena

“A cultura e a arte deixam as pessoas mais felizes”

28/01/2025Isabela Marangoni
Mariana Tineo

Crítico de cinema, jornalista e um grande amante da cultura geek, André Azenha lançou o livro ‘Pioneiros da Cultura Geek – Volume 1’ na última semana. Como parte do lançamento – e aberto aos fãs da cena nerd que quiserem participar – ele vai promover nesta terça-feira (28) rodas de conversa para conversar sobre a obra. O encontro será no Instituto Arte no Dique, em dois horários: às 15 e 17 horas.

Nesta entrevista exclusiva ao Jornal da Orla, Azenha fala mais do novo livro e seu objetivo de valorizar e resgatar a história de personagens e instituições que exploram o universo geek em Santos. Confira:

  1. O que levou você a pesquisar a cultura geek e lançar o livro?

Santos está entre as cidades mais nerds do Brasil. Com a CCXP, a Comic Con de San Diego, os filmes da Marvel, ficou na moda ser geek, nerd e tal. Uma coisa de 15/20 anos para cá, começa a Marvel Studios, tem o boom, ficou muito na moda e virou uma coisa até cult geek.

Essa geração mais jovem já vem inserida nesse contexto, mas lá atrás, nos anos 80 e 90, era uma coisa meio marginalizada. Quem era nerd, gostava de quadrinhos, de desenhar, sofria bullying. Muita gente acaba se apropriando disso também e não são pessoas que consomem, mas que se apropriam por questões comerciais, políticas, etc. Eu queria dar voz e destacar quem desbravou isso aqui na cidade, para que hoje tenha vários eventos, uma cidade com vários talentos.

A galera que desbravou para fazer Santos ser uma das cidades mais nerds do Brasil, até porque muita coisa se perdeu, mesmo com a internet. Tinha o A-Arca, que era um site da pré-história da internet – surgiu junto com o Omelete, com o Universal HQ, que ainda existem – e quando saiu do ar, muitos registros se perderam. Em livro a coisa fica registrada para sempre.

Vou doar 50 exemplares para as bibliotecas da Secretaria de Educação, eles distribuem entre as escolas, então fica registrado para quem quiser saber quem foram esses personagens e as figuras que ajudaram a construir esse cenário aqui.

  1. Como foi o processo de pesquisa e entrevistas para o livro? Teve alguma história ou personagem marcante?

Fiz um levantamento. Muita gente eu já conhecia, como trabalho com isso, estou inserido nesse contexto. Já fiz muita coisa na Gibiteca, com o Cine Roxy, leio quadrinhos, participo dos eventos, ajudei a criar o Festival Geek da Prefeitura, até no livro, na apresentação escrita. Com outras pessoas, fui perguntando, fiz um questionário, fui mandando e quem respondeu transformei em reportagem.

Outros eu fui pesquisando na internet mesmo. Tem gente que já morreu também, como o Miro, Argemiro Antunes, que era meu amigo, cartunista. As pessoas não podem esquecer, ele colaborava com o Pasquim, ajudou a criar o clube de cinema. Então, o que eu consegui colher de material, coloquei nesse primeiro livro.

Quanto aos personagens, todos têm histórias importantes. Mas o Alexandre Valença, o Bar, professor e quadrinista, se envolveu com todo mundo desse cenário, de algum jeito ou de outro. Por isso, no livro, ele é chamado de ‘O Mestre dos Mestres’. Ele é um cara que, de alguma forma, abriu caminho, participou e incentivou todo mundo de todas as áreas. Formou muita gente, inclusive muitos desenhistas e quadrinistas que estão no livro foram alunos dele. É um cara importante de ser ressaltado.

  1. O que esperar da parte 2? Quando será lançada?

Em junho deve sair o volume 2. Quero ver se fecho entre 2 e 3 volumes, como um guia desses personagens e figuras fundamentais.

Nesse primeiro volume, entrou muita gente de quadrinho. No segundo, vou para a galera de anime, cosplay, os primeiros daqui. Tem outras bancas também. Eu falo da Banca Estátua nesse primeiro, mas tem a Monólito, tem a loja Invasores, que já não existe há um tempo, mas que teve os primeiros eventos de quadrinhos. Esses vão entrar já no volume 2.

  1. Por que focar na cultura geek?

É um cenário que estou inserido. Primeiro o cinema, que é a minha praia, é o que eu faço há 20 anos, mas acabei por estar no cinema me envolvendo com a cultura geek. Eu leio quadrinhos desde pequeno e trabalhando com isso, já fiz muito evento do NerdCine, muita pré-estreia de filme da Marvel, pré-estreias exclusivas às vezes – nessas em que as estreias são a meia-noite, chegamos a fazer de forma gratuita para convidados – pré-estreia nacional, temos parceria com os distribuidores Fox, Warner, Disney e fizemos pré-estreias exclusivas de graça para convidados, para os fãs. Então, é um trabalho que eu já desenvolvo há bastante tempo, que estou próximo e sei que tem gente que está sendo esquecida ou que não é valorizada como deveria.

Em segundo lugar, temos muitos eventos geeks em Santos. Muita gente fala de cena geek, mas não podemos ignorar quem foram as pessoas fundamentais nisso. Como estou próximo, queria dar a voz, não só com o livro, mas com a exposição que está na Gibiteca.

 

  1. Qual o impacto da cena geek na formação cultural do santista?

Hoje está superforte, né? A cidade embarcou, temos a Santos Comic Expo, que é a primeira convenção de quadrinhos do litoral, a Anime Summer, o Festival Geek da Prefeitura, tem o Festival Batman Day, que eu organizo, tem as pré-estreias do Rock, tem a Gibiteca, que é super tradicional, desde 92 está ali. Santos, pelo fato de ter o Porto, é a porta de entrada do Brasil para o mundo, está a uma hora de distância de São Paulo, é uma cidade bem estruturada, com faculdade, cursos e tem um poder público que oferece cursos de quadrinhos. Isso existe há 30 anos, desde a biblioteca, existem cursos de desenho, de anime, de quadrinhos e tal.

Santos sempre foi uma cidade que propiciou isso, e, coincidentemente, é uma cidade que tem muita gente que foi trabalhar com isso, desde os quadrinhos, roteiro, desenho, na parte de cinema, na dublagem também. Aqui sempre teve gente forte, então tem essa vocação cultural que foi um facilitador para que o cenário geek crescesse, até porque tinha a questão do bullying lá atrás, mas as pessoas estão entendendo que é um cenário que abre portas para outras culturas.

As histórias em quadrinhos abrem porta para a literatura mais profunda, o cinema de super-herói abre porta para um cinema que pode ser mais intenso, mais profundo, de outros gêneros cinematográficos, o game e o RPG instigam a criatividade, as relações entre as pessoas. É uma cultura que é gostosa de abraçar, porque ela propicia tudo, entretenimento, educação, inclusão, etc.

  1. O que esperar pelas rodas de conversa no Instituto Arte no Dique?

Vou falar justamente sobre como a cultura geek pode transformar vidas, explicar as vertentes dela, falar um pouquinho do cenário em Santos. Vou também sortear e doar os livros para a galera do Dique da Vila Gilda.

  1. O conteúdo também está sendo expandido para outros formatos, não?

No blog eu publico entrevistas mais amplas, conteúdos exclusivos. Já tem algumas publicadas, toda semana vou subindo mais. São entrevistas mais extensas das que que estão no livro, desses personagens que participaram do projeto.

  1. Como foi a parceria com a Márcia Okida?

Os textos da exposição são meus e ela montou a arte. Pedi para que fosse algo no estilo fanzine, quadrinho. Tem os personagens que estão no livro e são 20 painéis contando de maneira lúdica essas histórias.

Está em cartaz na Gibiteca, todos os dias das 10h às 19h. Aos domingos é das 10h às 15h. De graça para quem quiser visitar.

  1. E a recepção do público às exposições e ao lançamento do livro até agora?

Foi bem bacana! Lá na Buguerama, vendeu mais de 100 exemplares, lotou! Para Santos, é um ultra best-seller. Na Gibiteca também lotou, estou feliz. Fiz um valor promocional, teve gente que levou de 5 a 10 exemplares. O pessoal que está no livro também comprou para distribuir para a família, para os amigos, então está bem legal.

  1. O que pode dizer a quem busca um caminho na cultura geek?

É um mundo que abraça as pessoas. A arte e a cultura, de maneira geral, melhoram a vida do ser humano. Quem tenta aprender algum meio artístico, ou consome música, literatura, cinema, mesmo que não vá trabalhar com isso, viver disso, acaba se tornando um ser humano melhor. Vai ser uma pessoa mais sensível e antenada às coisas. A cultura e a arte deixam as pessoas mais felizes.

  1. Para quem quer participar da roda de conversa, como pode fazer?

É só chegar! É de graça, lá no térreo do Instituto Arte no Dique (Rua Brigadeiro Faria Lima, 1349), em dois horários: às 15 e 17 horas. Tem bastante espaço, então está liberado para quem quiser ir.

  1. Terão outras rodas de conversa mais para frente?

Vamos fazer no morro e estou fechando na Vila Progresso, mas sem data certa ainda. Teremos também na Universidade Católica de Santos – Unisantos e na Associação Projeto TAMTAM.