Comportamento

Hora de fazer conta

16/10/2021
Hora de fazer conta | Jornal da Orla

Os especialistas em economia são praticamente unânimes em apontar um cenário que o brasileiro comum já sente no bolso: nunca está tão ruim que não possa piorar. Alta desenfreada de preços (principalmente as contas de consumo e alimentos) e o poder de compra corroído exigem que cada um faça um planejamento financeiro cirúrgico. O presidente da Associação Brasileira de Educadores Financeiros (Abefin), Reinaldo Domingos, adverte que não existe fórmulas mágicas. “As coisas não acontecem sozinhas, é preciso planejamento. Cuidado com o imediatismo”.

Domingos cita pesquisa da Dsop Educação Financeira, que revelou que 55,65% dos entrevistados registram apenas gastos mais importantes; 27,7% não anotam nada, controlando os gastos e recebimentos “apenas na memória”; e apenas 16,65% realmente elaboram o orçamento e comparam o previsto com o realizado. O especialista sugere quatro passos para manter a vida financeira equilibrada.

 

Quatro passos para o equilíbrio

Diagnosticar- Anotar todos os gastos e identificar quanto e com o quê está sendo gasto atualmente.

Sonhar- Estabelecer os sonhos (ou metas) de curto, médio e longo prazos, definindo quanto cada um custa e quanto deve ser poupado e por quanto tempo para esta meta ser alcançada. Exemplos de sonhos: uma viagem inesquecível para Paris, reservas para a aposentadoria, um carro novo.

Orçar- Anotar os valores exatos de quanto recebe e definir com o que será gasto, colocando o sonho antes das despesas. Por exemplo: o dinheiro para comprar a casa própria deve ter prioridade em comparação ao desejo e ir ao restaurante sofisticado. Rever os gastos significa avaliar se uma despesa é realmente fundamental, evitar desperdícios, reduzir quantidades, pesquisar preços, pedir descontos, trocar fornecedores, mudar de marcas. A família inteira deve estar comprometida com este processo. 

Poupar- O resultado da soma dos passos anteriores. Guardar dinheiro de acordo com o seu objetivo. Guardar “o que sobra” é uma estratégia errada, pois gatilhos emocionais como o famoso “afinal, eu mereço” tendem a fazer com que não sobre nada.
 

 

Armadilhas para o desperdício de dinheiro:
Compras Por Impulso- Pequenos e sucessivos agrados cotidianos podem ser imperceptíveis no momento do gasto em si, mas revelam os danos quando somados. Também entram nesta categoria as compras parceladas, financiamentos e consórcios sem o devido planejamento. 

Limites- Recursos disponíveis no cheque especial ou limites no cartão de crédito não são renda. Só devem usados em caso de excepcional necessidade. 

Contas atrasadas- Deixar o boleto vencer por falta de planejamento, e não de recursos, faz aumentar a despesa e gera aborrecimentos como o corte no fornecimento do serviço ou o registro no nome aos cadastros de devedores (SPC, Serasa etc).

 

Crianças precisam aprender desde cedo

Muitas pessoas não tem controle sobre as próprias contas porque simplesmente não foram ensinadas para isso. Assim, é fundamental oferecer educação financeira às crianças, que pode ser feita de maneira divertida. 

A educação financeira auxiliará as crianças a desenvolver melhor a percepção sobre o valor das coisas, o que é limitação de recursos e como lidar com as frustrações. Assim, irão adquirir mais segurança e autonomia para fazer boas escolhas e, no futuro, gerir suas finanças de modo mais consciente.

1. Dar o exemplo- Gera mais confiança no aprendizado, uma vez que a criança percebe coerência entre o discurso e a prática dos pais

2. O cofrinho- O porquinho armazenador de moedas é uma excelente maneira de materializar a importância de definir metas, disciplina e quanto tempo leva para alcançar objetivos. 

3. Mesada- Definir um valor que a própria criança irá administrar ensina que cada escolha tem consequências. Nada de fazer aportes adicionais se ela o dinheiro acabou antes do mês. Também não vincule ou aumente a  mesada ao cumprimento de tarefas que são obrigações, como tirar boas notas ou arrumar o quarto. 

4. Compartilhar- Inclua seu filho nas rotinas financeiras do lar. Mostre quanto custa uma conta de energia elétrica e o que é possível fazer caso consiga reduzir seu valor. Ensine o significado de termos financeiros como saque, transferência, débito, crédito e juros. 

5. Demonstrar prioridades- A criança deve ter consciência de que a compra de alimentos é mais importante do que ir ao cinema. Também é fundamental abordar temas como consumo consciente e sustentabilidade, e assim contribuir para termos uma geração mais responsável no uso do dinheiro.