Comportamento

Como acolher parentes de quem se suicidou durante a pandemia

11/09/2021
Como acolher parentes de quem se suicidou durante a pandemia | Jornal da Orla

Não bastasse o sofrimento que a pandemia vem provocando em todos, as pessoas que perderam entes queridos para o suicídio sentem ainda mais dor. Além do processo de luto ser pior (velório e enterro com restrição de duração e participantes), os sobreviventes enlutados, termo criado por especialistas para designar quem perdeu um amigo ou parente para o suicídio, podem desenvolver doenças mentais graves.

 “O processo de luto tem sido dificultado, principalmente por causa do distanciamento social e dos velórios limitados a poucas horas de duração e máximo de 10 pessoas presentes. Dessa forma, quem está enfrentando essa situação acaba se isolando e sente que faltou uma homenagem e despedida mais simbólicas ao ente querido”, explica a psicóloga Luciene Bandeira, cofundadora da Psicologia Viva, maior empresa digital de saúde mental da América Latina e integrante do Grupo Conexa.

Segundo ela, os sobreviventes enlutados apresentam quatro comportamentos preocupantes: sentimento de culpa, procura por justificação, estigma social e abandono. “Tudo isso pode causar depressão, desenvolvimento de transtornos mentais, queda de produtividade, dependência química e desinteresse pela própria vida”, acrescenta.

Luto é individual e sem tempo específico de duração 
Diante disso, Luciene destaca a importância da posvenção – cuidados e intervenções aos sobreviventes enlutados – como uma forma de identificar e valorizar fatores de proteção que possuam maior influência sobre os indivíduos, como senso de responsabilidade com a família; laços sociais bem estabelecidos com parentes e amigos; estar empregado; ter crianças em casa; capacidade de adaptação positiva, além de acesso a serviços e cuidados de saúde mental. 

A psicóloga ressalta que o luto é um processo individual e não tem tempo específico de duração, pois cada um reage de maneira diferente e sua resolução envolve algumas ressignificações em relação à perda, aceitação da condição e adaptação ao novo contexto. 

 

ORIENTAÇÕES PARA SOBREVIVENTES EM LUTO
– Busque grupos de apoio organizados por profissionais e/ou pessoas que vivenciaram o luto. Eles serão fundamentais no processo de afeto e acolhimento para você não se sentir só;
– Caso se sinta confortável, realize rituais de despedida que acalmem o teu coração;
– Participe de grupos de voluntariado como CVV (Centro de Valorização da Vida) e outros para se sentir coparticipante de transformações de vidas;
– Escreva conteúdos que possam contribuir com outras pessoas que estão passando por situações difíceis como você;
– Crie formas de homenagear seu ente querido de uma maneira que traga lembranças positivas e agradáveis;
– Compartilhe teus sentimentos com quem tem genuíno interesse em te ouvir e te dar forças.