Economia

Brasileiro ameaçado pelo retorno galopante da inflação

28/08/2021
Brasileiro ameaçado pelo retorno galopante da inflação | Jornal da Orla

Enquanto uma pequena parcela da população se preocupa com perigos imaginários, uma ameaça real volta a assombrar os brasileiro: a inflação galopante. 

Comunismo, fraude nas urnas eletrônicas, chip nas vacinas e ideologia de gênero e outras tantas bobagens tiram o sono de poucos (mas barulhentos) cidadãos, mas o que realmente tem deixado muitos sem dormir é o aumento dos preços, principalmente dos alimentos e combustíveis. 

O Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) indica altas inéditas: nos primeiros sete meses deste ano, a oscilação (para cima) foi de 5,81%; a acumulada nos últimos doze meses, 9,30%. Mas este índice oficial que mede a variação média dos preços não revela os aumentos que o cidadão comum verifica quando abastece o carro ou faz compras no mercado. 

O preço do quilo da carne bovina subiu cerca de 30% em aproximadamente um ano e tornou-se artigo de luxo; o litro da gasolina não ficou atrás e acumula uma alta de 30% desde o início do ano, atingindo inacreditáveis R$ 7 —situação bem pior da de 2015, quando uma cidadã, Tais Helena Borges, perdeu a cabeça com o aumento da gasolina para R$ 3,40. “Não abasteçam!”, gritava.

Mas por que os preços sobem tanto e parecem continuar numa tendência de alta difícil de suportar?

 

Tempestade perfeita
O economista Fabrízio Pierdomênico, que presta consultoria a grandes empresas do setor portuário, explica que a atual situação econômica do Brasil é resultado de uma “tempestade perfeita”. Ele esclarece que, assim como a queda de um avião, a piora se deve a uma série de fatores que, somados, tornam o quadro tão desanimador. 

Entre os principais estão a alta do dólar, aumento de custos logísticos no Brasil e no mundo, crise hídrica e energética, redução de safras e uma permanente crise política. 

“Há um caos logístico no mundo. Os fretes marítimos aumentaram muito, transportar um contêiner de Xangai para o Brasil, que custava US$ 1,5 mil, passou a custar US$ 11 mil e até US$ 15 mil”, exemplifica.

A retomada do consumo doméstico na Europa e nos Estados Unidos também pressiona para cima o custo dos produtos —a infalível lei da oferta e demanda— também para os brasileiros. 

Pierdomênico também destaca a alta de preços das commodities (produtos como soja, milho e açúcar): o produtor prefere exportar do que vender no mercado nacional. O economista alerta para as consequências da crise hídrica e energética. “Houve mudança no regime de chuvas no país, resultado das mudanças climáticas no mundo e do aumento de desmatamentos e queimadas”, explica. “Com isso, a nossa energia também ficou cara e ainda há o risco de desabastecimento, racionamentos ou mesmo apagões”, completa.

 Outro problema provocado pelas mudanças climáticas é o comprometimento de safras, por conta de secas ou frio, de produtos como café, milho e frutas. Novamente, a redução da oferta provoca aumento nos preços.
O economista lembra que a pandemia ainda não está controlada no Brasil, o que impede o retorno da atividade econômica à sua plenitude. Fabrízio Pierdomênico completa que um dos fatores que mais prejudica a economia brasileira é a crise política. “Gera incerteza nos investidores. O que a nação precisa neste momento é paz, tranquilidade política, estabilidade. As pessoas precisam respirar. Não quero debater artigo 142 da Constituição, quero debater desenvolvimento econômico, geração de emprego”, finaliza. 

 

Instabilidade
Especialista em finanças públicas, Fernando Chagas alerta para as medidas adotadas pelo governo federal que tendem a aumentar o gasto público e prejudicar o equilíbrio fiscal, como liberar verbas para atender parlamentares e evitar a abertura de um processo de impeachment, o aumento nos recursos para programas sociais como o Bolsa Família (agora chamado de Renda Brasil), ou mesmo ameaçando dar calote no pagamento de dívidas pacificadas (precatórios).

“A instabilidade política está pressionando a alta do dólar. O investidor, tanto estrangeiro quando nacional, não vê segurança para aplicar recursos em atividades produtivas no Brasil”, argumenta.

O economista André Paiva, da ACLacerda Consultores, reforça: “O aumento do dólar se deve em boa parte à crise institucional. É imprescindível um cenário mais estável”, afirma.

 

Atraso na retomada
Paiva, que é mestre em Economia pela PUC-SP e dourando em Economia pela Universidade de Brasília (UnB), afirma que a pandemia teve um grande impacto na economia, na medida em que reduziu a atividade produtiva e fez uma parcela da população perder parte significativa de sua renda. 

No entanto, ele ressalta que a maneira como o governo federal enfrentou a pandemia, principalmente na demora para adquirir vacinas, retardou o início da retomada da economia. 

 

Pode piorar
Os três especialistas avaliam que a situação pode piorar com a crise hídrica e energética que ameaça atingir o país, não só devido ao aumento nas tarifas mas também por conta dos riscos de racionamento, desabastecimento e apagões.