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Um amor feliz

11/08/2021
Um amor feliz | Jornal da Orla

Enquanto alguns escritores habitam suas próprias Torres de Marfim, encastelados dentro de suas obras e escrevendo para si mesmos, outros lançam olhares para o infinito. A polonesa Wislawa, laureada com o Nobel em 1996, não gostava de recitais, feiras ou debates literários. Sempre estabeleceu relações com pessoas alheias ao meio literário por ser muito curiosa sobre o mundo natural e sua gente, o que refletiu diretamente na sua poesia. 

 

Um amor feliz é uma coletânea de poemas que evidencia o estilo único da autora. Não encontraremos divagações abstratas e subjetivas sobre temas flutuantes. Sua poesia é fincada no chão da terra. É, sobretudo, sobre a vida cotidiana e o deslumbramento com a singularidade que orbita o comum de todos os dias, que tantas vezes escapa de nossa percepção. 

 

Com encantamento, atravessamos suas palavras para encontrar poesia nos mitos bíblicos, nas tragédias históricas e na filosofia; também nas plantas e micróbios, na astronomia e nos sentimentos de todos os dias: a negação da morte, o estrangeirismo, a empatia e a brutal indiferença do universo em relação às nossas vidas.  

 

Ler Wislawa coloca a existência em perspectiva e pode ressignificar muita coisa para o leitor atento. 

 

Motivos para ler:

 

1- Wislawa Szymborska (1923 – 2012) tornou-se referência mundial por trazer um luminoso frescor à tradicional poesia. O júri do Nobel chamou-a de “Mozart da poesia”. Em seu discurso, a polonesa bem definiu sua visão de vida: “Não há um mundo óbvio. Nada é comum ou normal. O que quer que ainda pensemos sobre este mundo – ele é espantoso”. É uma fina rosa num jardim de infinitos particulares;

 

2- É notável a desenvoltura da autora ao trabalhar tantos temas sombrios com um verniz de leveza e ironia. O próprio poema que dá nome à coletânea é um bom exemplo. Um poema de amor às avessas:“Um amor feliz. Isso é sério, isso é útil? O que o mundo ganha com dois seres que não veem o mundo?”; 

 

3- Se pudéssemos indicar apenas um poema da polonesa, sugeriríamos “O velho professor”. Ele tem tudo: a frustração, a angústia, a comédia, a ironia, a consciência do fim da história e do tempo. E, mesmo assim, com tudo encaminhado para a desolação, vem o desfecho assombroso diante de um céu em noite clara. Wislawa fez caber um mundo inteiro dentro de duas páginas. 

 

 

 


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