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O preço do sucesso

06/08/2021
O preço do sucesso | Jornal da Orla

Quando falamos em sucesso, pensamos em conquistas, dinheiro, fama, reconhecimento público. Mas podemos nos referir a recuperação da saúde por um tratamento bem realizado, a um amor, a paz e a sabedoria conquistadas. 

 

Substituímos o amor felicitante pelo carro novo. Mas, não faz muito tempo, o jovem bem-querido no grupo era aquele que tocava violão, sabia uma poesia de cor, tinha ideias libertárias e sonhava com um mundo entre iguais, solidário e fraterno. Substituímos o sentimento por coisas. Não batemos mais palmas para o pôr do sol; poucos se encontram na praia. O “point” é o “shopping”. Assim mesmo, tudo em inglês. Nem que não se compre nada. Mas estar ali, em meio a tantas coisas “compráveis”, parece ser o máximo, nestes tempos. 

 

Dizem que Sócrates, o filósofo grego, nos tempos de 470 a.C., uma certa tarde, convidou seus jovens discípulos para um passeio no mercado da cidade de Atenas, quando um deles observou: “Você nos ensina a conhecermo-nos a nós mesmos que assim conheceremos todo o universo e os deuses, porque se o que procuramos não acharmos dentro de nós, não acharemos em lugar algum!”. Imediatamente, outro discípulo emendou: “Então, o que vamos fazer no mercado, mestre?”. Ver quantas coisas estão à venda que não precisamos comprar, respondeu o sábio filósofo. Os passeios de domingo à tarde nos shoppings da cidade não seguem exatamente a ideia do “passeio socrático”, de contemplação, mas, ao contrário, a aspiração pelo consumo, mesmo que impossível. Reconhecer que não precisamos consumir tudo que a sociedade capitalista nos exige, é um primeiro passo para nos mantermos saudáveis mentalmente. 

 

A busca incessante pelo sucesso se traduz no desejo pela posse. A conquista por ter é a verdadeira e grande causa do estresse mental que tem feito de nós engrenagem de uma máquina de consumo que produz angústia, medo e depressão, considerada a doença do século. E nunca se consumiu tanto antidepressivos e ansiolíticos como agora. Somos um dos maiores consumidores mundiais destes medicamentos. É certo que com o maior acesso à assistência médica, mais casos são diagnosticados e mais receitas são emitidas. Mas, não há justificativa para tanta medicalização. Tristeza por uma perda, angústia por uma meta não alcançada, competição desleal no trabalho, insatisfação ou frustação num relacionamento, virou sinônimo de Prozac, a pílula da felicidade.

 

Enfrentar os medos; preparar nossos jovens para a competição saudável e para o enfrentamento às frustações; fazer esta geração entender que querer não é poder e socializar nossos idosos, por exemplo, seriam boas iniciativas que podemos tomar a partir de dentro de nossas casas. Aprenda a dizer não e transforme sua insatisfação em indignação transformadora. Os esportes e as artes são um excelente instrumento para socialização. Enquanto estamos suando ou criando não estamos conjugando outros verbos desnecessários.