A equipe de 13 especialistas da Organização Mundial da Saúde (OMS) que vai investigar a origem da pandemia de covid-19 na cidade chinesa de Wuhan terminou nesta quinta-feira (28) o período de quarentena. Duas semanas depois de terem chegado ao país, em 14 de janeiro, os pesquisadores podem iniciar a investigação.
O trabalho tem sofrido alguns atrasos pelas preocupações com o acesso às autoridades chinesas e as disputas entre a China e os Estados Unidos (EUA), que acusaram Pequim de esconder a extensão do surto inicial e criticaram a organização da investigação.
A equipe ficou em quarentena num hotel, durante duas semanas, e hoje pôde, finalmente, sair do isolamento e começar a analisar a origem dos primeiros surtos do Sars-Cov-2 naquela cidade, no fim de 2019.
Mesmo em quarentena, os especialistas foram adiantando o trabalho, reunindo-se com cientistas chineses por videoconferência.
A saída do grupo do hotel foi acompanhada pela imprensa e transmitida ao vivo pelas televisões locais. O grupo é liderada por Peter Ben Embarek, o maior especialista da OMS em doenças com origem animal que afetam outras espécies, e deve permanecer na China pelo menos mais duas semanas.
A investigação no local, que a China levou mais de um ano para autorizar, é extremamente sensível ao regime comunista, cujos órgãos oficiais têm realizado estudos que indicam a origem do vírus em outros países.
Olhar atento
O novo coronavírus, que provoca a covid-19, foi detectado pela primeira vez em Wuhan, no fim de 2019, mas a China sugere a hipótese de não ter sido a cidade a origem do vírus. A OMS considera que as origens do Sars-Cov-2 estão altamente politizadas.
"Não há garantias de respostas", disse o chefe de Emergência da OMS, Mike Ryan, em entrevista no início de janeiro. "É uma tarefa difícil identificar totalmente as origens e, às vezes pode levar duas, três ou quatro tentativas para ser possível fazer isso em diferentes ambientes".
Na quarta-feira (27), antes de terminar o isolamento, uma das pesquisadoras da OMS que está em Wuhan, a virologista holandesa Marion Koopmans, disse que a equipe sabe que o mundo está com os olhos postos nessa investigação.
"Estamos cientes disso, não há como contornar. É por isso que realmente tentamos manter-nos focados, somos cientistas, não somos políticos, estamos tentando realmente olhar para isso do ponto de vista científico".
Segundo a especialista, parte da investigação inclui abandonar todas as noções preconcebidas sobre como o vírus evoluiu e se propagou, para olhar o que as evidências revelam e partir daí. A equipe passou as duas últimas semanas em videochamadas com cientistas chineses.
Não se sabe com quem os especialistas estão autorizados a falar e quais os locais que poderão visitar, a partir de agora, para dar seguimento ao trabalho. Os próprios representantes do governo chinês explicaram inicialmente que a doença teve origem num mercado em Wuhan, onde animais selvagens eram vendidos vivos, mas as dúvidas persistem.
De acordo com a imprensa internacional, as famílias das primeiras vítimas de covid-19 em Wuhan estão sendo pressionadas pelas autoridades chinesas para não entrar em contato com os especialistas da OMS.
Estados Unidos
O governo dos EUA alertou, na quarta-feira, que a investigação da OMS na China deve ser "completa e clara".
"É imperativo que cheguemos ao fundo das coisas, sobre o surgimento da pandemia na China", disse a porta-voz da Casa Branca Jen Psaki, garantindo que os Estados Unidos vão apoiar "uma investigação internacional que deve ser completa e clara".
O governo do presidente Joe Biden vê com grande preocupação as dúvidas em relação ao papel da China nesse problema, que atingiu todo o mundo. Por isso, a Casa Branca continua a pressionar a China para que colabore com a comunidade científica.
O ex-presidente Donald Trump acusou várias vezes a China de ter permitido que a pandemia se expandisse em sua fase inicial, e também a OMS de ser complacente com a agenda política de Pequim.
O novo secretário de Estado norte-americano, Antony Blinken, vai assegurar que cientistas e políticos dos EUA estejam presentes na China para representar os interesses de Washington nessa missão, afirmou a porta-voz.