Poucas vezes concordo com o presidente Bolsonaro. Temos visões diferentes de mundo. Mas ele é o presidente do Brasil, eleito democraticamente com mais de 57 milhões de votos, e eu sou um simples jornalista, pouco conhecido .Isso não impede de eu ter minhas opiniões. Hoje, por exemplo, concordei com o que disse o presidente, que me pareceu ter acordado mais calminho, mais manso.
Com a economia indo para o brejo em razão do coronavírus, Bolsonaro alertou: "Vai faltar dinheiro para pagar servidor público", E completou: "ainda tem servidor achando que há possibilidade de ter aumento neste ano ou no ano que vem. Não tem cabimento".
O presidente destacou, ainda:"Os informais, que são 38 milhões já perderam quase tudo. Segundo a Organização Internacional do Trabalho, os informais da América Latina perderam 80% do poder aquisitivo".
É fato que a crise provocada pelo coronavírus, além de ceifar milhares de vidas, deixou praticamente todo mundo mais pobre. Até os mais ricos sentiram a paulada. Não faz sentido, portanto, que apenas os servidores públicos fiquem imune à ela. Não sou daquelas pessoas que acham que o funcionalismo público é um dos grandes males do Brasil. Pelo contrário, eles são essenciais e, de um modo geral, a grande maioria recebe salários abaixo do que merece.
O problema está na elite do funcionalismo. E, principalmente, no mau exemplo vem de cima, como as lagostas e vinhos premiados que degustam os ministros do STF, os carros blindados, as viagens de jatinho da FAB, auxílios disso e para aquilo, e por aí vai. Em uma democracia moderna esses privilégios são inadmissíveis. Num país tão desigual como o Brasil, é uma afronta, um deboche.
Não vi, até agora, governadores e prefeitos falarem em cortar – ainda apenas enquanto durar a crise – uma parte dos salários da elite do funcionalismo. Daqueles que recebem mais de R$ 20 mil reais, por exemplo. Seria uma atitude para mostrar ao povo que seus dirigentes estão solidários com o sofrimento coletivo. Cortem os grandes salários e paguem um extra para os servidores que estão na linha de frente, como profissionais de saúde, policiais e bombeiros.
Nada. Nem uma palavra. Nossas autoridades se fazem de bestas, porque tem eleição este ano e todo voto é importante. A voz do corporativismo é gigantesca na capital da República.
A única coisa que vi, de concreto, foram altas autoridades do Judiciário dizendo que no salário deles ninguém mexe.
Então, quando a crise econômica se agravar, vai faltar dinheiro para pagar até o funcionalismo.
Bolsonaro tem razão. Aí, só haverá duas alternativas: ou atrasar salários ou rodar a maquininha, e emitir moeda sem lastro em dólar. Se isso acontecer, a inflação – que domamos com o Plano Real – volta a galope. E adivinha, leitor, quem vai pagar essa conta outra vez.
Pois é, se pensou em você, acertou.